Empreendedorismo
“Rime como uma garota” vem pra chamar a atenção pras manas do rap e do slam
Dar voz às mulheres e oferecer ferramentas que proporcionem diálogo e embate – já que a luta contra o racismo, machismo, LGBTfobia, xenofobia, entre outras opressões é diária – é o objetivo da PEITA. Em julho a marca protesto lança a frase “Rime como uma garota”, onde parte da produção já está sendo usada para apoiar e incentivar projetos como o “Slam das Gurias CWB” e o Rima Dela, em São Paulo.
As duas iniciativas, como 98% das parcerias da marca-protesto, são encabeçadas por mulheres para divulgar o trabalho de outras mulheres. O slam é uma competição de poesia falada que não só reinventa a forma de divulgar poemas, como também ocupa espaços públicos. No caso do Slam das Gurias CWB, o evento acontece todo primeiro domingo do mês no prédio da Reitoria da UFPR e nasceu no dia 8 de março de 2019 durantes as ações do Dia Internacional da Mulher. As organizadoras Jaqueline Mancebo e Gabriela Carneiro sentiam que muitas mulheres tinham vergonha de participar das batalhas abertas devido ao machismo presente na cena e resolveram criar um só pras manas. “No Slam das Gurias o palco é delas, mas a plateia é de todes”, exemplifica Gabi.
Já o projeto Rima Delas é um espaço onde as mulheres podem falar abertamente sobre suas vivências dentro da cultura, seus trabalhos e dificuldades que enfrentam diariamente. O canal tem entrevistas, videoclipes e cyphers organizados com novos e velhos nomes da cena como Mel Duarte, Sara Donato, Bianca Hoffmann, Bia Doxum e Brisa Flow. “Nossa ideia sempre foi misturar. Poder mostrar minas que já estavam no corre fazendo rap há muito tempo e mesmo assim não tinham tanta aceitação do público, justamente por o hip hop ser um movimento completamente formado por homens machistas. E trazer novos nomes, apresentar novas minas, que estão começando, são muito boas rimando, cantando, fazendo freestyle, mas não tem espaço para mostrar seu trabalho”, explica Becca Vilaça .
A idealizadora do Soul di Rua, coletivo de comunicação que deu vida ao Rima Dela reforça que “o rap é completamente machista, mas a luta feminista dentro dele tem tomando uma proporção maior a cada dia. Ainda existe aquele cara que não aceita uma mulher sendo a artista principal, não aceita abrir show pra mulher, na produção não gosta de receber ordem de uma mulher liderando. Eles ainda não entenderam que todo esse nosso sofrimento, em diversos fatores, não é à toa. A gente vem crescendo, está se fortalecendo até conseguir pegar o que é nosso por direito”.
Para a organizadora do Slam das Gurias, Gabriela, é muito importante que mulheres ocupem todos os espaços, só nós podemos falar por nós. “Rimar como uma garota é ter que lidar com vários olhares e vários julgamentos. Rimar como uma garota é resistir àquilo que vem pra te diminuir. Porque sempre vem. Uma mulher ocupando um lugar de fala incomoda. Aí a gente permanece, cria raízes e resiste. Rimar como uma garota é resistir”.
A arte produzida por mulheres é uma das atividades que a PEITA incentiva e soma esforços. Afinal, não existe luta sozinha. “A cultura é super política. É ela quem mantém nossas mentes sãs e nos deixa atentas ao que está acontecendo ao nosso redor. Principalmente as manas do rap, hip hop e slam que estão sempre colocando o dedo na ferida, escancarando o racismo velado, apontando os boys lixos que violentam mulheres e tirando as ‘feministas’ de timeline do conforto. Feminismo é sobre incomodar, subverter, exigir e conquistar direitos”, comenta Karina Gallon, presidenta da PEITA.
Em ambas projetos a PEITA oferece camisetas para ações dos projetos. No caso do Rima Delas, foi realizada uma sessão de fotos com rimadoras dos dois cyphers vestidas com a frase para divulgar o trabalho que elas vem realizando. Para o Slam das Gurias, são oferecidas camisetas, brindes para serem distribuídos e sorteados, além das premiações para as finalistas. E tem Puta Slam das Gurias em novembro. Em breve mais informações.
A peita “Rime como uma garota” já está disponível no site: www.peita.me .
SOBRE PEITA
A Peita nasceu dia 8 de março de 2017 com a frase “Lute como uma garota” invadindo as ruas de Curitiba nas manifestações do Dia Internacional da Mulher – Marcha 8M. O intuito da marca-protesto é oferecer ferramentas de enfrentamento para mulheres lutarem contra as opressões diárias. A Peita cumpre com a missão de trazer os dizeres polêmicos do contexto das manifestações para os dias comuns, gerando a discussão do movimento feminista em uma abordagem diferente. A proposta é causar incômodo mesmo. É fazer com que opressores sintam-se desconfortáveis e produzir o diálogo sobre assuntos ainda espinhosos, através de um canal de comunicação não-verbal num primeiro momento. Cada pessoa que veste uma PEITA a ressignifica em seu contexto de luta.
O layout criado pela designer curitibana Karina Gallon transmite a mensagem de forma simples e direta, usando um produto comum e acessível. Hoje a PEITA tem 30 dizerem polêmicos, das quais 70% são parcerias com movimentos, instituições e projetos sociais, mulheres que estão na militância e/ou empresas que se comprometem com o combate às opressões. Nestes casos, o lucro ou parte da produção é doada para financiar causas.
Crédito foto: Karu Martins