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Teatro

Gargalhada Selvagem é uma obra instigante e provocativa

Publicado

em

por Leonardo Talarico Marins

Um dos maiores desafios da Crítica Teatral e da própria vida é não se colocar em primeiro plano diante das realizações cênicas e acontecimentos da vida alheia. Indispensável olhar o outro como outro e não como referência dos nossos desejos.

Como Diretor Teatral, cabe a mim compreender tudo quanto os operadores teatrais envolvidos no projeto desejaram pôr em cena. Não importam os meus anseios e interesses. Cabe-me a honestidade intelectual de compreender o lugar de fala do outro e, de forma empática, entender se os objetivos foram alcançados. No espetáculo em tela, o objetivo do entretenimento resta explícito. E não há mínimo problema quanto a isso. Ao contrário, o Teatro é múltiplo e mínimo cerceamento de linguagem opera em desfavor da fundação antropológica Teatral. A liberdade e a liturgia são elementos exponenciais do Tablado.

“Gargalhada Selvagem”, de Christopher Durang, é uma obra instigante e provocativa sobre a capacidade cada vez mais rara de rirmos dos nossos comportamentos, bem como atentarmo-nos aos riscos decorrentes das tensões da vida moderna na metrópole. Um dos pontos fortes da montagem é trazer para um público de entrada cênica elementos filosóficos-literários introdutórios. Inúmeros fragmentos são lançados com o objetivo de aguçar a inteligência da audiência. Há jogos linguísticos que arrancam risos de reconhecimento e entroncamento na plateia.

A direção liberta seus atores para ocuparem seus espaços, e esses o fazem com toda a experiência adquirida ao longo da carreira. Os elementos cênicos estão a serviço dos atores, da obra e não provocam distração. Alexandra Richter encontra destaque. Rodrigo Fagundes também apresenta domínio do seu gênero. Os demais operadores teatrais colaboram no avanço da dramaturgia.

O espetáculo atua ferozmente na percepção da atual sociedade, seja pela exposição das idiossincrasias particulares do mundo contemporâneo, na busca irrazoável pela felicidade e na ponderação ácida sobre os pontos de vista das mazelas humanas. A direção utiliza múltiplas linguagens cômicas e retira do público diversos risos e reflexões. Um espetáculo para se entreter e aproveitar o esclarecimento da profundidade possível da sociedade contemporânea. Como diz o mestre Chaplin, a vida de perto é uma tragédia e de longe é uma comédia. A obra posta em cena cumpre todas as suas pretensões.

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