O Teatro é um espaço litúrgico

por Leonardo Talarico

O Teatro é um espaço litúrgico.

Não expresso opinião de forma elitista.

Há inúmeras possibilidades nessa concepção.

Mas é imprescindível saber estarmos diante do “sagrado”.

E o “sagrado” decorre do histórico da arte cênica, bem como a rara possibilidade de realizar uma manifestação artística com a sua plateia.

E a liturgia está exatamente na concatenação de atos precedentes à realização cênica. A reverência ao local, seu estado de compreensão e ao momento cênico.

Outrora, atores e atrizes, por exemplo, possuíam uma maleta com roupa de ensaio. No momento de realizar suas marcações, textos ou mesmo desenvolver exercícios dramáticos necessários ao processo de construção do espetáculo, trocavam de roupa e colocavam aquela indumentária simbólica que indicava devoção e pertencimento.

Com o tempo prático-moderno, chegamos a “todos de preto”.

Hoje, ensaiamos com “roupa de rua”.

Há profissões práticas e outras cujo simbolismo está em diversos elementos, mas o Teatro tem por pressuposto o próprio corpo humano.

A roupa específica para a função Teatral faz o artista estar ao vivo e em ato concreto, com a sua inteireza de alma.

E a sua indumentária impõe transição do ego para o estado de serviço.

Em prosseguimento, importante também a relação com o Palco.

Antigamente, subia-se em honra, reverenciando aquele espaço.

Pedidos de permissão, compreensão daqueles que antecederam, sinais da cruz etc.

Hoje, deparamo-nos com a banalização da arquitetura Teatral.

E não me refiro aos prédios elitistas, Teatros Municipais etc.

Digo sobre o próprio espaço escolhido, seja um palco italiano, arena ou uma praça. Ou seja, o palco, nesse aspecto, é o lugar por você escolhido para realizar o encontro transformador.

O mundo tem operado na banalização dos rituais.

E nunca fora tão importante honrar nossos antepassados que riscaram o Tablado que hoje podemos habitar.

E, por favor, com respeito, serviço e dignidade.