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Opinião

Peça sem Título, sem Peça (parte II)

Publicado

em

por Leonardo Talarico Marins

Sim, a máxima se impõe, o raio cai duas vezes no mesmo lugar.

“Deus” é testemunha. Luto para não ir à má realização cênica.

E ao dizer má não estou no espectro do valor “gosto”.

Gostar é atividade subjetiva. Estou na seara da dignidade.

Detratar uma obra não realiza dentro de mim sequer mínimo poder e satisfação. Ao contrário, sei o quanto é devastador na formação e manutenção das plateias teatrais.

Um Teatro “ruim” não possui função social.

Enfim, fui movido pela curiosidade por muito conhecer a personagem.

Obra biográfica.

Uma mulher histórica inserida em contexto deveras dramático.

Perpassou na vida sofrimentos, tentativas de suicídio, infidelidades etc.

A encenação transforma tudo em unificado processo panfletário que extrai toda “poesia” e as camadas sublimes da personagem.

A obsessão pela defesa da personagem é tão intensa que restam descuradas as filigranas, responsabilidades e distanciamento.

Quase tudo é construído no ódio.

Canto perigoso para habitar.

O que há em um quarto vazio? Nesse aqui, arranhões de fúria.

Pois bem, desde sempre, ódio e “montagem cênica caótica” vivem em casamento com união total de bens e promessas de eternidade.

Os elementos cênicos postos em cena não contribuem ao desfile dramático.

Não bastasse, nem a mínima estética faz-se presente.

E o figurino, único objeto próximo de reverência à personagem, resta contaminado pelo palco político.

É bem feito, mas mal vestido.

Não se anda, não se veste e nem se caminha como no século referente e como fazia a própria personagem.

Mas o pior sempre está por vir.

Após tudo isso, a produção do espetáculo teve a brilhante ideia de fazer um totem para você tirar foto como se fosse a personagem e divulgar nas redes sociais. Você coloca seu rosto no elemento gráfico.

Mas como articular tamanho sofrimento com o elemento totem Disney?

Fosse a obra sobre Maria Antonieta, haveria um “totem guilhotina”, com sangue cenográfico espalhado pelo chão e o pai dizendo aos filhos: “vou soltar, faz cara de rainha decapitada”.

Espetáculo para ser visto porque o melhor ensinamento, segundo as lições de Nilton Bonder, é recebido pelo viés contrário, local para fotografar a alma.

Viva o Teatro. Apesar do próprio, às vezes.

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