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Mistura Fina -Dia Internacional da Mulher – essa mulher e os assuntos polêmicos!

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Por Giseli Canto

Depois de muito pensar nas necessidades e dificuldades que profissionais da música passam pra conquistar seu espaço, muitas coisas me vieram à cabeça. O que pode ser uma variante do sucesso pra uns, pra outros um caminho árduo e inóspito do “sucesso”.

O que é sucesso então? Aquilo que sucede; acontecimento, fato, ocorrência ou, ainda, qualquer resultado de um negócio ou empreendimento. Bem! talvez você relacione sucesso com show business; estrelato e fama; paparazzis rondando seu espaço de liberdade tão pequeno no mundo; autógrafos e roupas rasgadas; camarins cobertos de flores; caminhos alternativos pra sair do seu espetáculo após o término; uma vida limitada! Pode ser! Só que nem sempre isso é verdadeiro.

No dia Internacional da Mulher, trago uma conversa com uma empreendedora, cantora, compositora, escritora, uma administradora com inúmeras atividades profissionais, que hoje são perfeitos predicados dessa mulher. Um símbolo de bravura e perseverança de alguém que transitou em espaços de difícil acesso para mulheres: Mara Fontoura!

Diversas demandas e empreendimentos! Com  a necessidade de fazer um trabalho para uma gincana de clube, saiu o grupo vocal de meninas; teve que criar um jingle, tornou-se jinglera; dos simples arranjos foi aos grandes arranjos, estudando e ouvindo as primeiras orientações de Magro (Antônio José Waghabi Filho) do grupo MPB4. Assim foi se tornando arranjadora.

Que vontade de gritar! Que história linda! Que estrada seixosa que 53 anos percorridos presenteando ouvintes, plateias e profissionais com atividades diversas na cultura da cidade, que resultaram na vitória de, oficialmente, 43 anos de carreira! Com nove, sim, apenas nove anos começou a compor e cantar suas músicas no Programa do Capitão Furacão na década de sessenta. Em 1978, formou o grupo Nynphas. Sem Lei de Incentivo, Mara contou com as permutas pra conseguir êxito no caminho. Produção feita na raça! Trocando apresentações por hora de estúdio, em um trabalho de formiguinha que deu a ela experiência e muito entendimento. Quando surgiu a Lei de Incentivo, foi um pouco mais fácil porque se fazia um projeto que ficava de dois a três meses na fila. Ele era analisado, aprovado e a partir dali começava-se a produção.

Mara se considera uma pessoa de extremo sucesso por ter sido bem sucedida em tudo o que fez, sem o glamour, sem holofotes, porém, realizada pelos resultados do seu trabalho. Claro! É bom demais o reconhecimento do público, diz ela. Teatro lotado, ser ovacionado e aplaudido de pé. É lindo ver os olhos de quem está na primeira fila bebendo da sua arte. Triste é sentir que esse momento pode causar medo e insegurança nos que tentam solfar esse pentagrama. Você, profissional da música, já teve a sensação de incomodar outros profissionais da área, com sua presença? O que será isso? Inveja, ciúme ou medo que sua presença retire o brilho do outro? Sobre essa antropofagia, Mara diz “puxa! Quanto mais sucesso o outro fizer, tá abrindo caminho pra todo mundo(…) o teu sucesso não tira o meu brilho, o teu brilho não tira o meu. Sabe? Essa coisa de competição melhorou um pouco, mas ainda tem em Curitiba(…).

Existe um axioma em Curitiba, uma generalização na observação das plateias, que Mara lembra muito bem o ditado (…)santo de casa não faz milagre, o povo daqui tem essa tradição, deu uma melhorada boa(…,),qualquer pessoa desconhecida de fora da cidade faz mais sucesso do que uma pessoa daqui, que tem toda uma história(…). Enquanto isso, outros estados valorizam seus artistas e consomem sua arte. Gaúchos, catarinenses, cariocas, mineiros, valorizam sua casa e conhecem seus artistas.

Só Curitiba é assim? Pode ser que não, mas é possível sentir na pele ainda, pois apesar de que ao longo dos últimos anos a cidade tem revelado um melhor comportamento nesse sentido, ela ainda segue omissa e resistente ao trabalho autoral. E mais, descortinam-se os fatos de enfrentamento corpo a corpo, quase como um adversário, a rivalidade e o ciúme daquele que pretende ter o amor e admiração do público com exclusividade e o estigma de ser da cidade. Uma ferida exposta!

Oh azar, oh vida! Diz Hardy companheiro de Lippy, Isso não vai dar certo! Eu digo, oh vida! Oh dura estrada de artista! Aos trancos e barrancos deu certo! Nascido em 1978, o grupo composto por jovens curitibanas, faz parte da história cultural do Paraná e já foi tombado como patrimônio cultural. Foi o primeiro grupo paranaense indicado ao prêmio Playboy de MPB, no ano de 1984. Durante sua história, lançaram 4 discos em vinil e 4 CDs.

Nada disso fez perder a força e o brilho que forjou o caminho dessa empreendedora. A carreira de Mara foi calcada na divisão, compartilhando tudo que sabia. Sem deixar de fazer sua arte, grande parte de seu tempo foi investido na dedicação aos artistas, chegando a trabalhar simultaneamente com até trinta projetos, sem se poupar em ajudar na realização dos sonhos do outro. É sabido que toda a necessidade organizacional de uma produção deve sair de um projeto. Enquanto esteve na Gramofone, essa infraestrutura foi desempenhada por ela. Ou seja, sua batuta regia essa orquestra burocrática, enredada de complexidades.

Como nem tudo são flores, teve que conviver com a ingratidão, a falta de reconhecimento e respeito de muitos profissionais, a arrogância de quem trata um coordenador de projetos como um escravo; a penosa e árdua função de pedir que o artista cumpra seu papel profissional no projeto. Momentos em que uma simples solicitação de assinatura era a razão de entraves no fluxo do trabalho. Caramba! É muito difícil fazer a sua parte em um negócio? Então você não deve estar ali. Deixa esse espaço pra quem quer trabalhar e é, de fato, um profissional!

Veja como o momento atual se encontra pra uma empreendedora que conhece o mercado de projetos, que tem intenções sérias, conhecimento de causa e transita em várias áreas da cultura. Será que esse instrumento de Lei de incentivo oferecido pelas instituições públicas é, de fato, um incentivo?

Complexo! As Leis de Incentivo foram se modificando e em trinta anos se tornaram um pesadelo para os muitos profissionais. Do surgimento da Lei em 1991, que o Grupo Nynphas participou, até hoje muita coisa mudou. O que era pra ser um instrumento de facilitação no gerenciamento de carreiras, tornou-se um comércio de aproveitadores. Segundo Mara, a Lei foi difundida e houve uma demanda de inscrições muito grande; surgiu a indústria da captação e apareceram pessoas que nunca produziram na vida sendo chanceladas como produtoras. Diz ela (…)hoje o momento está mega caótico sabe?, porque têm dez projetos pra aprovar um. A Lei Rouanet já é um mecanismo difícil de captar, tudo parado ultimamente(…) a nossa Lei caótica, essa montanha de gente, muita gente ruim sendo contemplada. Uma meia dúzia que todo ano esta lá(…).

Certamente, muitas tentativas, muitas frustações, poucos êxitos. Projetos que se repetem e são aprovados sistematicamente; a indústria da captação monopolizando os recursos e impossibilitando que artistas de qualidade consigam efetivar seus projetos, deixando o artista refém dessa indústria; uma consulta pública realizada em 2020, com orientações sugeridas pela classe, onde mudanças na captação ajudariam esse momento caótico, não foram aceitas por haver a necessidade primária de mudança na Lei. Tudo isso e mais um pouco poderiam levar, não só Mara Fontoura, mas muitos outros empreendedores à ruina e a desistência de seus projetos. Aconteceu com muitos, mas Mara não parou e continua empreendendo, realizando, levando sua produção a sério como sentinela cultural.

Mara observa que (…) um pouco de tudo isso é culpa da própria classe, não só dos agentes, do poder público. Fui ativista, fui atuante, de discutir e dar a cara pra bater(…) mas na parte da atuação política, pra representar uma classe, ela tem que ser ouvida, tem que estar presente. Nunca tive trinta projetos meus. Os projetos eram de vários artistas(…). abri mão de tudo porque cansei da postura da classe. A gente briga em fóruns bate de frente com as instituições pela classe e a classe só quer que a gente resolva. Ninguém quer saber de nada, não aparecem nas reuniões, a gente dá a cara pra bater e não tem o respaldo da classe. Agora sou apolítica, cansei! Claro que existe exceções e é com elas que Mara continua contando.

Nessa conversa foram reveladas grandes evidências de insucessos no que diz respeito à relação entre profissionais da música e a inércia da classe. Reveses, obstáculos, embaraços, quebra-cabeças, impasses e dilemas; aborrecimentos lamentáveis em relacionamentos profissionais; incômodos que resultaram o impedimento de muitos trabalhos; pepinos e abacaxis mesmo! Tudo isso fez dessa musa inspiradora uma mulher de sucesso! Gosto de pepino e abacaxi, mas quando eles são problemas, eu os quero longe.

Boa música pra mim é a que mexe com a emoção, independente de gênero, estilo ou qualquer outra coisa. Gosto de música bem feita, pode ser simples, mas tem que ser bem tocada, bem cantada. Em nível de composição gosto de músicas que tenham uma estrutura e forma compreensíveis, em outras palavras que tenham pé e cabeça. rssss. No caso da canção a letra deve ser inteligente, fluída, ter uma boa métrica. Eu ouço de tudo, MPB, rock, pop, muita música clássica, folclórica… gosto mais de algumas que outras, quase não tenho preconceito, exceto por algumas breguices que andam por aí à solta. Mara Fontoura

Colaboração: Mara Fontoura

Assista uma das muitas produções de Mara Fontoura. Grupo Nynphas – Choro Doce ao vivo no Teatro Paiol – 2016

Você pode discordar, perguntar, não entender direito, mas precisa gostar de estar aqui comigo! Do contrário não vale a pena!

Espero você!

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