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Festival de Curitiba

Inesgotável é a vontade de continuarmos assistindo peças que possamos compreender

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Por Igor Horbach

A mostra Fringe possui mais de 200 apresentações em 15 dias de Festival e fica difícil escolher as peças para assistir ao longo dos dias com tantas opções. Entre elas, esteve o espetáculo Inesgotável, monologo com a atriz Dig Dutra, curitibana que se destacou no Zorra Total e que agora apresenta um drama fortíssimo que embora esteja dentro do pós-dramático, passa longe dos textos incompreensíveis.

O texto sobre a vida de Inês e sua personalidade famosa, uma grande estrela consagrada e que toda sua angustia – a minha compreensão – ocorre dentro de si mesma é inebriante e nos afoga em seus pensamentos mais profundos. É através de uma narrativa selecionada que vai nos driblando pelos momentos de maior tensão e costurando toda a história. 

Não, não se trata de uma peça que o espectador entra e sai sem entender nada com teses longas e que levam ao cochilo durante a apresentação. É um texto denso, bem construído e embora brinque com a psicose da personagem, muito tradicional do pós-dramático, é completamente compreensível. O público é capaz de chegar ao final da peça com as reflexões que lhe eram postas com total consciência. 

O figurino simples é usado em toda a peça como um elemento que complementa o conjunto da obra de forma maravilhosa, assim como a cenografia, também simples, visto que se trata de um monologo. Todos os itens desta servem tanto para compor o cenário, como também de objetos cênicos que vão sendo inseridos aos jogos cênicos da atriz em cada parte da apresentação.

A iluminação é linda e minimalista, rica em detalhes e a forma como brinca com a presença corporal da atriz. Contudo, a trilha é tão simples que em quase toda a peça é inexistente. Existe nos pontos mais necessários, mas se esconde em todo o resto, o que poderia ter sido mais potencializada. 

A atuação de Dig está em seu ápice. Embora não tendo conhecido seus trabalhos anteriores, a atriz brinca com a dificuldade de estar em cena sozinha o tempo todo e traz para o público a essência de um bom artista cênico: a naturalidade. 

Em todos os momentos, a atriz nos conta a história que se propõe brincando com os elementos e os tornando parte daquilo que a primeira impressão não faz sentido. É homogêneo, perfeito e me cheguei a perguntar como tal performance ficou longe da mostra oficial.

De todas as peças que assisti durante a 31º edição do Festival de Curitiba essa talvez tenha sido uma das melhores performances que fogem do teatro comum e parte para uma jornada mista entre as profundidades dos teatros absurdos com os naturalistas. 

Inesgotável é uma peça que precisa ser assistida por todo público que gosta e admira um excelente teatro. A direção fica responsável de unir todos os elementos e torna-los agradáveis aos olhos do público e consegue fazer isso tão formosamente que merece destaque. 

É disso que o Teatro precisa nos dias de hoje. A resistência não está em alimentar o senso comum de uma arte elitista que apenas alguns compreendem, não está na segmentação que a própria bolha artística alimenta. Está em fazer um teatro fora do comum, contemporâneo, mas de maneira que todos compreendem, até mesmo aquele que nunca viu uma peça antes na vida. 

A peça foi apresentada no Cena Hum, mas é digna de um Guaíra. Inesgotável tem atuação de Dig Dutra, direção de George Sada e produção de Julia Dassi, seguindo informações do Guia Oficial do Festival.

Crédito foto: Annelize Tozetto

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