Interaja conosco

Teatro

“Alumia!”, uma peça animal – e este é sim um título à altura

Publicado

em

por Carlos Canarin

Outro espetáculo que esteve em cartaz na mostra FRINGE do Festival de Curitiba foi “Alumia!”, produção da companhia curitibana Alameda Teatral que estreou ano passado. A peça concorreu a categorias do Troféu Gralha Azul, inclusive a de melhor espetáculo, e rendeu ao diretor Cristóvão de Oliveira o prêmio de melhor caracterização.

A obra é direcionada ao público infantil (mas não somente) e parte da problemática da ausência de luz durante as noites num condomínio como metáfora para discutir os medos que as personagens possuem – neste caso, tanto figuras animais falantes, quanto uma menina chamada Antônia. Reunidos no conselho animal para discutir sobre a situação, as personagens vão apresentando suas próprias particularidades e papéis sociais, digamos assim, no coletivo da natureza.

A dramaturgia do espetáculo, assinada pelo grupo a partir do argumento de Kellyn Bethania (que também integra o elenco), é inventiva para um tema já bastante explorado em cena e extrapola o que normalmente temos no imaginário comum quando pensamos em teatro para criança. É uma obra que possui personagens bem construídos, super divertidos e encantadores, com espaço para todo o elenco brilhar – e como!

Historicamente no Brasil, o teatro voltado ao público infanto-juvenil está associado superficialmente a narrativas rápidas, supérfluas, com a voz e o corpo infantilizados, como se as crianças e jovens não fossem capazes de lidar e se envolver com trabalhos mais “elaborados”. E isso é uma farsa, totalmente ligada ao modo como a própria sociedade encarava a criança não como um sujeito, mas como um objeto a ser moldado por adultos.

Destacarei as performances de Patrícia Barros como a Aranha, a líder do conselho e Larissa Prestes e Victor Truccolo, a dupla dinâmica de mosquitos franceses Moustique e Pelotí. A encenação de Cristóvão de Oliveira é sólida e seu trabalho com o elenco é de fato visível, pois estão todos em sintonia e com uma energia de cena que se complementa, se constrói em conjunto. Outro ponto alto são os figurinos apresentados, pois são também elementos de jogo, de criatividade, não ficam no óbvio quando pensamos na representação de animais – aliás, o que são os vários rabos da Tixa, interpretada por Giovana Rodrigues, que são trocados em diversos momentos? A brincadeira também está aí!

Penso que um aspecto muito importante para a peça é o musical, afinal são incorporadas à encenação canções autorais compostas por Larissa Prestes, atriz que também é a diretora musical da obra, com arranjos de Ariel Rodrigues. A potência vocal do elenco é notável, mas confesso que senti falta disso ser performado ao vivo, mesmo com instrumental em playback. Ao meu ver, isso traria ainda mais beleza e adensaria as partes musicais, que com as gravações tornam a cenas menos interessantes do que poderiam ser.

Reflito também sobre a invisibilidade que assim como tantos outros grupos da cidade de Curitiba que não estão no mainstream da cena teatral atual e da “classe”, também acomete a Alameda Teatral quando estamos falando de reconhecimento por seus trabalhos e por sua trajetória até aqui. Miro “Alumia!” como um exemplo da qualidade e da pesquisa de linguagem explorada por este coletivo, que merece ser mais assistido, difundido e levado para outros espaços e realidades.

Comentar

Responder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seja nosso parceiro2

Megaidea