Música
“A terra do Quase”: Elian Woidello e a insaciável máquina de disparar canções do bruxo de Curitiba
Por Mario Costa Sanches
“Quando o sol dividir e a luz despencar eu vou virar teu mundo de pernas para o ar…”
Faltava muito, quando Elian Woiidello Revolução (canção dos versos acima), para a edição da Terra do Quase. E desde então até agora o curitibano escreveu um monte de palavras também.
Algumas, precisas. Outras, nem tanto. Aas suficientes, de umas e de outras, para que muitos o amem, e outros muitos o odeiem. Aquela rachadura estúpida e ridícula, infantil e antiga que sempre tentou deter o artista.
“Assim de longe posso ver são todos bêbados em um bar / os piás de um outro dia são nossos novos Dorian Gray”.
Pois bem, algumas das canções são conhecidas do público e sabemos que Elian Woidello fez foi um discaço. Enquanto alguns seguem esperando uma continuação do “Eu Mando Noticias” de 2015, ou que Woidello repita o que a cena autoral da cidade faz, o cult, que tentaram calar o artista. Elian segue fazendo canções. Aponta e dispara– “estamos vivos y eso es elnuestropeligro” -, as vezes soa como um portenho, as vezes um curitibano, o centro de Curitiba se faz presente como elemento simbólico no álbum-“Café com gosto de sal”.
Mesmo assim, A Terra do Quase é um disco conciso, oito canções com muita musicalidade que vai desde a milonga até o conservatório do século XIX, Chopin, Tchaikovsky estão presentes no disco do início ao fim, Fernando Pessoa, Caetano Veloso, Paulo Leminski, Borges, Oscar Wilde, Gilles Deleuze são alguns dos artistas, escritores e filósofos citados no disco, ora como ironia, isso Woidello faz com Caetano e Leminski, ora celebrados, Fernando Pessoa e Oscar Wilde.
O disco começa dando um basta no fascismo, a prolixa Terra do Quase; Gilda é melancólica e irônica, um talento de zombar de Curitiba como poucos o fizeram, o disco desce rumo ao Rio da Prata e Nuestro Peligro vem com ternura e resignação, como um convite para um café em alguma diagonal de La Plata; Revolução é revolucionária harmônica e melodicamente, com uma letra que descreve o feminino, Deleuze e a Televisão é o abismo entre o dever e o desejo, sensual e agônica; Aos Piás de Um Outro Dia é uma rapsódia da música curitibana, onde Woidello ironiza a cena autoral da cidade; A Terra do Quase (Reprise) é como um bis do começo do disco, mostrando uma clara influência do Sgt Peppers dos Beatles; O disco termina com a icônica Um Mesmo Rio aquele menino que volta a Curitiba e descobre que no mesmo rio que navegou tudo havia mudado, mesmo assim as coisas seguiam sendo as mesmas.
O álbum será disponibilizado na integra em todas as plataformas digitais até o final de Outubro.
Crédito foto: Divulgação