Interaja conosco

Teatro

Peça sem Título, sem Peça

Publicado

em

por Leonardo Talarico Marins

Como Diretor de Teatro, sei das dificuldades de pôr em cena uma obra. As artes cênicas representam um dos movimentos artísticos mais árduos, haja vista o espetáculo não restar emoldurado ao término. Construção, destruição, reconstrução. Tudo precisa ser revivido por diversas sessões e exige uma concatenação de atos artísticos-burocráticos para ficar minimamente de pé. É um ato de loucura. Por isso, é preciso certa empatia diante da (má) realização. Não apenas pelo espetáculo, mas pela consequência direta às obras em cartaz.

Fui assistir ao espetáculo certo da sua qualidade, mas encontrei um quarto abandonado sem ao menos elementos simbólicos que me tomassem atenção. Ao término, minhas mãos não ousaram se encontrar e produzir som. Nenhum aplauso consegui produzir. Voltei atordoado sem saber como agir: fingir não ter visto ou revelar o visto ou não vi? Como toda boa solução caminha entre duas certezas, farei da seguinte forma: sem expor o espetáculo e seus profissionais, direi tudo quanto penso sem pesar nas costas da produção.

Nesse momento, caberia uma honesta pergunta por parte do meu público: mas assim seus leitores não correm o risco de assistir ao espetáculo? Probabilisticamente, não. As sessões do espetáculo estão no fim. E importante também salientar ser fundamental na vida fazermos uma valoração dos prejuízos. O risco de alguém assistir, diante do encerramento da temporada, não compensa eternizar as ponderações a serem feitas. E, por outro giro, já existem muitos profissionais interessados em detratar, por meio das suas opiniões acadêmicas, pessoas e obras.

Portanto, vamos lá: de início, o espetáculo é realizado por atores domiciliados em peças diferentes. Não existe unificação na linguagem dos atores. Parece uma colcha de retalhos, desarmônica e incoerente. A atriz em cena não estaciona em um verbo, não confere uma pausa, não utiliza mínima energia mineral e infantiliza sua personagem. A obra adaptada exigia uma comunicação “dramática” com a plateia. Há no texto sérios pontos de inflexão desperdiçados. Tudo é lançado do alto de um prédio como folhetim de gosto duvidoso, com propulsão de energia vegetal que caminha ao sabor dos ventos. A escolha exigia melhor preparação. A sensação, analisando os discursos festivos dos envolvidos, é de fechamento (hermético) do processo, pois impossível não perceber de fora a desorganização de dentro. Não se articula lírico e épico, tudo é simétrico, a interpretação é um transcorrer de leitura desencontrada, haja vista não ter um ator ou atriz com pertencimento ao povo detentor da obra. O lindo cenário chegou como uma mudança vinda de outro imóvel. A luz não ilumina. O som não toca. A direção de movimento apenas agita. E o diretor viu tudo isso chegar e assim o deixou. O histórico do autor-obra não merecia um clima tão desarranjado. A encenação não se salva minimame

culo para ser visto (pois como dizer para não assistir algo?) e lamentar.

Comentar

Responder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seja nosso parceiro2

Megaidea