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Teatro

A história da “Menina Mojubá” que é ela e muitas outras

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Por Carlos Canarin

O FESTU – Festival do Teatro Universitário é uma importante ação que acontece na cidade do Rio de Janeiro e visa compartilhar, divulgar e celebrar as produções feitas por estudantes universitários e de escolas de formação em teatro. A primeira edição do projeto foi realizada em 2010 e, desde então, já foram doze as vezes que espetáculos puderam ser montados através do prêmio concedido pelo Festival, que na última edição foi de 45 mil reais.

Esse é o caso do espetáculo “Menina Mojubá”, que traz em seu elenco e produção estudantes da Escola de Teatro Martins Penna (RJ). A peça veio para o Festival de Curitiba devido à parceria de anos que o evento tem junto com o FESTU, que garante apresentação da esquete vencedora já na programação do FRINGE no ano seguinte. Essa ação é de extrema importância, afinal possibilita aos estudantes entrarem em contato com públicos de outra localidade e também a de vivenciarem a experiência do Festival (que é o maior da América Latina).

Em linhas gerais e para evitar spoiler, a peça conta a história de uma menina negra que convive com a violência desde o seu nascimento até seus últimos dias de vida (pelo menos neste plano). Por fazer da rua a sua casa, a Menina convive com seus habitantes e seus mistérios, até mesmo chegando a conhecer Exú, que promete a ela proteção. Aliás, “mojubá” no candomblé é uma saudação para o boca do mundo, o orixá que tudo come, tudo compreende e aceita – lembro agora de um ditado iorubá que diz que “Exú matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”. A protagonista então se vê numa situação limite quando começa a morar numa casa de prostituição, tendo que enfrentar perigos que podem levá-la à morte. A história de uma Menina que ao mesmo tempo é ela e muitas outras, tanto as do tempo presente, quanto as do ancestral.

Destaco aqui a atuação e a presença de Marcela Treze, atriz que também assina a dramaturgia do projeto. Marcela impressiona com seu trabalho de corpo e encontra nuances muito interessantes em sua atuação e nos prende do início ao fim, como uma boa contadora de histórias. A narratividade é o que dá o tom do espetáculo, e Marcela Treze tem a energia certa em suas mãos, bem como brinca com as palavras e os momentos que o texto apresenta (ela interpreta mais de quatro personagens totalmente diferentes umas das outras).

Dramaturgicamente, encaro a montagem como bastante exitosa ao tratar de temas tão delicados para nossa sociedade, como a violência de gênero, a intolerância (e o racismo) religioso, a situação de crianças abandonadas… Mas ao mesmo tempo a dramaturgia também celebra as culturas afro-brasileiras e seus encantamentos de uma jeito bastante criativo e sensível. Aqui também estenderei meu destaque para Gabriel Gama, diretor do espetáculo que também está em cena fazendo a (maravilhosa) sonoplastia ao vivo e atuando.

É uma pena que o espetáculo tenha sido apresentado num teatro tão pequeno (mas ok, aconchegante) como o Novelas Curitibanas. A peça poderia (e merecia) ter sido alocada para um espaço maior, o que possibilitaria que um público maior pudesse ter tido acesso, além do fato de que o espaço cênico proposto tomaria outras proporções ainda mais interessantes. Mesmo assim, “Menina Mojubá” é um ótimo espetáculo que representa muito bem o Festival do qual nasceu, bem como ajuda a desestigmatizar a ideia errônea de que um “Teatro Universitário” só se refere a um trabalho mais conceitual e teórico, e por isso não “chega nas pessoas”.

“Menina Mojubá” tem em seu elenco Marcela Treze e Gabriel Gama. A dramaturgia é assinada por Marcela Treze. Direção: Gabriel Gama. Direção de Movimento: Michael Alves. Direção Musical: Cesar Lira. Preparação Corporal: Cátia Costa. Pesquisadora de Conteúdo: Kenia Maria. Figurino: Michael Alves. Iluminação: Isabella Castro. Operação de Luz: Isabella Castro, Júnio Nascimento. Operação de som: Junio Nascimento. Assessoria de imprensa: Manu Mayrink. Designer UX: Rafaela Gama. Diretor de Produção: Victor Braga. Produção Executiva: Bete Chaves. Assistente de Produção: Júnio Nascimento.

Crédito foto: Bia Póvoa

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