Saravy estreia “RAÇUDAS” em Curitiba: um solo sobre identidade, memória e pertencimento

Foto: Isa Lanave

A atriz e artista sul-mato-grossense Saravy, radicada em Curitiba, estreia o espetáculo “RAÇUDAS”, seu novo trabalho cênico em parceria com a diretora Sueli Araújo e a Pomeiro Gestão Cultural. A temporada acontece de 13 a 23 de novembro, na Alfaiataria Espaço de Artes, com doze apresentações gratuitas, incluindo sessões acessíveis com Libras e audiodescrição.

O projeto nasce de uma investigação autobiográfica sobre o lugar da mulher negra e indígena na sociedade brasileira, explorando suas camadas históricas, afetivas e políticas dentro de um país ainda atravessado pelas contradições da colonização e da miscigenação. “Sou nascida e criada no Mato Grosso do Sul, vim buscar formação no Sul do país, morei na Costa Verde Fluminense e, nesses deslocamentos, fui reconhecendo minha racialização nos territórios por onde passei. Sigo construindo e identificando os diálogos raciais em nosso país”, afirma Saravy.

Definida como uma artista na encruza da racialidade brasileira, indígena, afrodescendente, mestiça, fronteiriça e sertaneja, Saravy transforma a própria trajetória em matéria poética e política, fazendo de seu corpo um território de memória, escuta e resistência. RAÇUDAS é um solo de caráter teatro-palestra, em que o documental e o autoficcional se entrelaçam para criar uma cena em que arte e vida se confundem, abrindo espaço para reflexões sobre raça, gênero, território e pertencimento.

Segundo a diretora Sueli Araújo, o espetáculo “coloca em jogo vivências pessoais e coletivas sobre pertencimento racial no Brasil atual e estabelece um espaço de diálogo direto com o público, cruzando ciência e sabedorias ancestrais”. O trabalho também marca o reencontro artístico entre as duas criadoras, quinze anos após a última colaboração, em uma encenação que une rigor, delicadeza e urgência política.

Mais que um espetáculo, RAÇUDAS é um processo expandido que articula formação, criação e difusão. Antes da estreia, Saravy conduziu oficinas e vivências sobre identidade racial com mulheres privadas de liberdade no Centro de Integração Social da Região Metropolitana de Curitiba. Desses encontros, nasceram gestos, palavras e memórias que compõem o solo. “Adentrar o sistema prisional e dialogar sobre identidade de nação com as mulheres privadas de liberdade move vontades e dá corpo a esse trabalho uma espécie de oficina-assembleia sobre o Brasil”, diz a artista.

A equipe criativa de RAÇUDAS reúne nomes das artes visuais, cênicas e do audiovisual, como Laís Melo, Lidia Ueta, Isa LaNave, Uóshi, Stéfani Belo, Nathan Gabriel e Jo Mistinguett. O projeto também será registrado em uma websérie homônima, com direção de Lidia Ueta e edição de Ricardo Kenji, composta por oito episódios curtos a serem lançados gratuitamente no YouTube, acompanhando o processo de criação e destacando a presença das mulheres na cena contemporânea.

Mais do que uma obra sobre identidade, RAÇUDAS é um gesto de pertencimento e partilha, que propõe olhar para si como caminho para compreender o coletivo. O solo ecoa o debate sobre raça, gênero e ancestralidade, ampliando as ações contracoloniais e decoloniais na arte brasileira.

RAÇUDAS é, nas palavras da própria Saravy, “um espelho e uma travessia um trabalho que nasce do corpo e da memória para existir no encontro com o outro”.

O projeto é realizado com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba, com incentivo da Bosch.

Serviço

Espetáculo: RAÇUDAS – Saravy
Local: Alfaiataria Espaço de Artes – Rua Riachuelo, 274, Centro, Curitiba
Datas: 13 a 23 de novembro de 2025
Horários: Quinta a domingo, às 19h30 | Sábados e domingos também às 16h
Ingressos: Gratuitos – retirados uma hora antes na bilheteria
Acessibilidade: Sessões com Libras aos sábados às 16h e audiodescrição no dia 22/11 (sábado), às 16h