Colunista
Retilíneo – Uma obra política para ser vista e se fazer compreender os meandros de uma companhia Teatral
Por Leonardo Talarico Marins
Tive a oportunidade de assistir ao espetáculo Retilíneo, da Batalhão CIA de Teatro, oriunda de Curitiba, em belas apresentações no Rio de Janeiro. Há, felizmente, porque isso é enriquecedor para o Teatro, diferenças entre as nossas concepções cênicas. E a diversidade de linguagem só engrandece o Teatro e não serve minimamente de referência qualificativa.
Todas as passagens cênicas merecem reverência quando alinhadas à dignidade Teatral, e isso nem se cogita, haja vista que a obra Retilíneo possui valorosos alicerces teatrais, inclusive antropológicos. O espetáculo finca raízes na demonstração desiquilibrada da sociedade e suas decorrentes perversões aos apagados socialmente. E o fazem com sabedoria, pois não deixam nada a dizer, mas possuem a inteligência de substituir a natural panfletagem literária pela simbologia. Inúmeros elementos substituem as palavras, colocando no corpo do ator imagens e movimentos de forte impacto.
O espetáculo atravessa o Palco estabelecendo relações esclarecedoras e construtivas. Não se opera no ódio gratuito ao inimigo, mas apresenta argumentos e situações aptas à reflexão. Os materiais cênicos são utilitários e simbólicos, a luz reforça a Dramaturgia, a trilha pontua dramaticamente a obra e os atores realizam, com esforço e qualidade, o mesmo espetáculo, com relevante dinamismo.
Uma das coisas mais bonitas de enxergar não é apenas a verdade da mensagem trazida à baila, mas as atuações oriundas de uma companhia de teatro. Todos dividem, entregam-se à obra absolutamente afastados de qualquer vaidade. Todos, com suas qualidades individuais, servem à plateia, morrem na coxia e resgatam o amadorismo Teatral. Não pela escassez de profissionalismo, mas pelo amor latente que define o termo amador, aquele que ama. Uma obra política para ser vista e se fazer compreender os meandros de uma companhia Teatral.
Leonardo Talarico Marins