Colunista
O show tem que continuar?
por Leonardo Talarico
No campo da “afetividade”, vista como um conjunto de sentimentos humanos, há nítida hierarquia. Procuramos o Teatro por inúmeros motivos. Por vezes, mero entretenimento, curiosidade diante de atores e atrizes protagonistas na teledramaturgia, experiência, história etc. Mas o que fazer diante da maior tragédia nacional?
Qual sentimento deve prevalecer?
Por razão dos clubes envolvidos na série A do campeonato brasileiro, discute-se a possível paralisação das partidas.
E a nossa classe? Devemos seguir rindo, emocionados, solidários?
Não sei. Não estou em cartaz no presente momento histórico e compreendo perfeitamente o impacto da paralisação nos diversos setores. É preciso caminhar, dizem, compreendo. Talvez fizesse o mesmo.
Mas precisamos falar sobre os nossos.
Os jornalistas pipocam alternativas para viabilizar a reestruturação dos clubes do futebol gaúcho, como, por exemplo, a destinação de cinco a dez por cento da bilheteria de todas as demais partidas para auxiliar a recuperação dos estádios, centros de treinamento etc. Entretanto, pouco ou nada se fala sobre a salvaguarda artística e proteção dos operadores cênicos, teatrais, pintores etc.
É óbvio que o primeiro momento é destinado à sobrevivência, salvar vidas. Entretanto, cabe aos distantes dos resgates decorrentes das inundações pensar no ato subsequente. Naquilo que os de “frente” não podem se dar ao luxo de aferir. Devemos atuar em projetos práticos e imediatos destinados à recuperação dos espaços artísticos e seus ocupantes. É óbvio que toda vida importa e será necessário um planejamento nacional-abrangente para resgatar todas as classes. Entretanto, cada classe tem seus pormenores, e nós artistas sabemos onde está o “nó específico” do nosso labor. Por exemplo, é importante mandar os recursos necessários ao resgate e sobrevivência. Mas deveríamos mandar alegria às crianças com o intuito de redução traumática em conjunto com psicólogos?
Um “Teatro de Bonecos” deixaria as crianças com algum sorriso? Hoje vi uma matéria sobre doação de brinquedos para pets. Cada um escolhia o seu na montanha de doações. Linda iniciativa. Mas as crianças precisam imediatamente de valores simbólicos e afetividade. E é nossa função como “ninfa” trazer à baila esse espectro. Enfim, talvez alguém esteja fazendo. Não conseguimos ter informações de tudo quanto feito, até porque o jornalismo também detém sua hierarquia nas notícias. Precisamos doar mantimentos, verba e pensamentos para cuidar das minúcias da nossa atividade, seja para salvar como aliviar. Não sei. Escrevo como ignorante desacostumado com tragédias, mas como alguém perturbado com o pós-traumático. O show tem que continuar! Precisamos pensar é no com