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Literatura

Somos finitos e nosso infinito é lembrança!

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Por Elinéia Denis

Quem leu o “Querido Papai Noel, Socorro!” vai navegar bem nessa viagem textual. E quem não leu, vem comigo, a gente vai se entender no caminho.

Quero te lembrar, antes que você embarque nessa, da boniteza da palavra contemplação, que significa olhar alguém, algo ou para si mesmo, com encantamento, com admiração. Sendo assim, com seu ticket de contemplação em mãos escolha sua poltrona e lembre-se que durante o trajeto de leitura vamos apreciar
cada palavra e memória relacionada. Todos prontos? Vamos!

Ao longo dos dias percebo que vamos nos esquecendo dessa contemplação de nós mesmos, e dos outros, mas (sem tristeza) se olhássemos para a nossa finitude perceberíamos que nosso infinito é lembrança, as lembranças que deixamos. E de certa forma, as lembranças são o que os outros captaram de nós nesse espaço de contemplação.

Tem sido muito difícil para mim, hiperativa diagnosticada, me concentrar em uma conversa apenas sem o celular na mão, é complexo focar no momento presente, apreciar por poucos minutos o céu, brincar de bolinha com meus cães ou almoçar sem tentar captar os muitos sinais que o mundo nos envia o mesmo tempo. Mas no fundo, foi o diagnóstico mesmo que me colocou nesse lugar de ‘ou você regula agora, ou daqui a pouco a vida se resumiu em correria e o burnout tá aí’. Me concentrar em apenas uma ação ou pessoa, me traz quase uma dor física, mas é essa a beleza das relações e dos que passam por nós. E, queria te contar que o momento não vai esperar que a gente pare para apreciá-lo.

Quando você silencia descobre que faz muitas coisas por impulso, às vezes julgamos pessoas, desgostamos de outras, porque não paramos para olhar para elas e não paramos para olhar para o que sentimos sobre elas. Trocar a lente do ‘corra, Lolla’ (não sem dor) colocando a da Lolla que respira e ouve tem me aberto muitas novas janelas, que eu mesma escolhia deixar fechadas. E se a vida passa e a gente não abre? Pode acontecer nada, ou pode ter muita beleza desperdiçada pelo caminho.

E dentre tantos aprendizados políticos, sociais, culturais, o que mais pudemos sentir com a pandemia é a dor da finitude. A vida não é um trem que a gente controla, por mais que nossa aceleração seja um esforço para isso. Sentimos a finitude e a nossa total inabilidade de lidar com o incontrolável tão de perto, eram números diários nos meios de comunicação nos avisando das mortes, nos sentimos gritando por ajuda, por justiça e por responsáveis e parecia que nada acontecia (ainda parece).

Preciso confessar que revi a animação “Viva – a vida é uma festa” e “Soul” e temperei com lágrimas cada minuto. O que ficou de cada pessoa que partiu foram as lembranças, memórias de momentos que você se permitiu contemplar dela ou com ela. Quando uma personalidade morre, como foi o caso da Marília, do Tarcísio, do Paulo, consideramos sua obra e paramos para apreciá-la. Paramos para ver sua história, compramos biografias daqueles ícones que não conhecemos para contemplar trechos de sua vida. Sempre que um deles morre somos impactados com o tema da finitude. Acho que o fim da vida das personalidades que admiramos, mas não conhecemos, de certa forma nos lembra que todos chegaremos nesse dia.

O convite dessa viagem é para gente contemplar primeiro quem somos, quais lembranças serão as nossas, como seria nossa biografia, como seria nosso testamento, nosso obituário… e nesse exercício, eu espero não ser lembrada com o celular na mão ou ‘casada’ com meu computador. Depois de contemplar quem somos, é hora de contemplar quem nos rodeia, quem passou por nós, quem poderia ter sido nosso amigo e não foi, quem é nosso amigo e está sempre conosco, filhos, família, bichinhos, natureza. Eu estou bem inquieta com essa jornada, mas todo dia eu me comprometo a dar um pequeno passo e entre dois para trás e dois para frente, hehe, tem dado certo.

Eu sempre defino uma palavra para meu novo ano e dessa vez decidi que não preciso esperar janeiro, que a palavra definida, enquanto fizer sentido, será contemplação. Eu não tenho o poder de selecionar as memórias que vou deixar, mas posso ajudar para que elas sejam no mínimo agradáveis.

“Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.”

Conceição Evaristo, Da calma e do silêncio

(Um agradecimento especial ao Rodrigo Melo que me brindou com essa arte em forma de poema, escrito por essa inspiração que é a Conceição Evaristo).
Obrigada por me acompanhar até aqui, me conta, como foi a experiência da sua janela? Vou adorar ler!
Com afeto,

Elinéia Denis @elineiadenis

Curiosa, inquieta e feminista. Especialista em ambientes digitais com amplo conhecimento em branding, posicionamento e reposicionamento de marca. Conta com mais de 15 anos de experiência profissional, é mentora de Tendências e Marketing e atua na gestão da Comunicação e Marketing no mercado corporativo.

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