Música
MISTURA FINA – Um compositor!

Por Giseli Canto
As regiões do Brasil se correspondem em características semelhantes. Em todas elas a cultura é rica e belíssima. Somos um só povo e incrivelmente criativo. O que nos define “pessoas” é um ser consciente, com arbítrio próprio e como diz José Oliva, pessoas são música!
A música que ouço agora sou eu, é você. O que nossa música tem em comum, aos estados e cidades, não são os variados ritmos, harmonias e melodias. Não! Esses usamos ali ou aqui e, meio que definidos, imprimimos estilos. Na música, o que nos torna comum é o músico, o compositor. São eles que migram pra lá e pra cá, dedilhando instrumentos, escrevendo letras e soando vozes que revolvem nossos sentimentos e atravessam nossas vidas sem destino próprio, sem endereço fixo, sem determinar espaço. Um Brasil musical é o que somos!
Desde que percebi que podia cantar muitos estados e que vi cantores e cantoras cantarem muitas cidades, sem me precipitar, entendi que somos simplesmente música. Conheço histórias de muitos que saíram de suas cidades por razões diversas. Uns pra tentar a vida na cidade grande; outros pra sair dela; outros por chamado profissional; outros por chamados familiares. Cada qual com seus motivos. Descobri a miscigenação musical em tantos lugares que perdi um pouco a referência. Se isso acontece no nosso Brasil, deve acontecer no mundo.
Gostaria de falar aqui de tantos compositores como Waltel Branco, Lápis, Cartola, Noel, mas vou me permitir chorar hoje por Gerson Bientinez que tem, em suas canções, espaços pra todas as pessoas, espaços que em suas parcerias deu um tom singular aos compositores parceiros que calam poeticamente a vida em suas obras. Choro por letras ainda não cantadas e a vida finita, que gostaria ter sido mais longa. Do centro cultural da cidade sorriso sua voz rouca já trazia o tempo que se findava e o limite que chegava. Não se percebia, nem se aceitava o fim, mas ele veio. Foi arrebatado de nossas vidas de forma pandêmica. Atingiu a cena pela multiplicidade de fronteiras com o mundo, formadas pela união ilimitados caminhos musicais. A negativa de sua ausência é igual pra todos que amamos e que tem representatividade pra nós. Assim é Gersinho na música!
Cantado por muitos, mas não por tantos que ainda possam cantar muito mais do que cantei suas músicas, Gerson tinha uma genialidade que nem eu mesma consegui absorver. Cantei em festivais e ganhei prêmios com suas composições. São canções bem vividas, como ele mesmo dizia nas letras. Palcos, luzes e palmas. Não tenho dúvidas! Você tem? Tem dúvida que ao ouvir uma música se identifica com um momento de sua vida. Pois é, fico “sem palavras” pra dizer que o coração fala por si e sabe bem mais do que posso apenas dizer aqui. Vidas parecidas!
Ele foi um compositor de muitas mãos e muitas vias. Traduziu a vontade de sua cidade e de muitas outras pelas mãos de seus parceiros, nos quais uniu as cidades e estados desse Brasil. Com ele, estiveram os maravilhosos Claudionor Cruz, Baden Powell, Eudes Fraga e tantos outros. Só com esses nomes já cruzamos o país e cruzamos todos os espaços do universo porque a música não tem endereço fixo.
Fui a última cantora a cantar suas músicas. Vinte dias, aproximadamente antes de nos deixar, uma canja no Bardo Tatára foi a que marcou seu último termo numa ordem temporal da vida que entendemos como vida. Sempre pode continuar acesa essa arte; a primeira arte. Não deixe de ouvir as muitas canções de Gerson! Estão registradas impecavelmente por cantores e cantoras que carregam pelos ares toda força musical desse compositor. Como lembra Etel Frota: “Te adoro, guria!” era a maneira usual de se despedir das gurias de todas as idades. “Sen-sa-cio-nal!” era o seu bordão. “Te amo”, foi o que me disse ao se despedir.
Molhei um pouco o papel com saudade, mas acho que você entende. Afinal, assim como você, sou música e minhas dores aqui refletem apenas um dedo de prosa. Minha música hoje está melancólica, nostálgica e doída. Um refresco são as lembranças desse bem-humorado e brilhante artista que soube dizer mesmo “Sem Palavras”, o sentido de viver.
Ouça “Nosso Amor” com o nordestino Eudes Fraga. Sinta essa voz que arrebata o que a gente sente e pulveriza um som que vem do céu. Ele tem a voz dos querubins!
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Citações em itálico: letras de músicas.
“Sem Palavras” – música de Gerson Bientinez e Eudes Fraga
https://youtu.be/-rA_FCXJFPM
“Laís” – música de Gerson Bientinez e Hilton Barcellos
https://youtu.be/9Qm-8oM69Qk
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