A forte presença de mestras na cultura popular paranaense é o tema dos documentários “Elas São o Meu Início”, sobre a cacique Juliana Kerexu, e “Mide: Entre Costuras e Cantares”, sobre a fandangueira Cremildes Ferreira Bahr, que estreiam em sessões virtuais na Sala Vitória do Cine Passeio nesta quinta-feira (8/7). Os documentários ficam em cartaz, gratuitamente, até 14 de julho. Basta acessar a página do espaço e receber o link para assistir. No dia 9, às 19h, haverá um bate papo com participação de toda equipe, Juliana e Mide, com transmissão pelo YouTube.
As produções integram o projeto Guiança, que joga luzes sobre o protagonismo das mulheres que mantêm viva as culturas tradicionais e populares paranaenses. A direção dos dois trabalhos é de Jéssica Quadros. Com 20 minutos de duração, “Elas São o Meu Início” apresenta as reflexões sobre ser cacique mulher e sobre como se conectar com o sagrado para dar continuidade à tradições que só fazem sentido pelo repasse de geração a geração, traduzindo a força da cultura guarani. O fortalecimento que vem do espírito da fala, da sabedoria das ancestrais e da potência de transformação se desdobra em prática diária de reconhecimento do poder pessoal de Juliana Kerexu, cacique da aldeia Tekoa Mbya Guarani Takuaty, da Ilha da Cotinga, em Paranaguá.
Cremildes Bahr_a_Mide2_ Foto Carol Castanho
Ao longo dos 25 minutos de “Mide”, as sutilezas da memória são cuidadosamente contadas e recontadas. Mantidas nas fotografias, preservadas nos cantos, costuras e afeto, as imagens retratam passagens históricas, marcos culturais e refazem percursos dos mais de 53 anos de luta pela valorização da cultura, em especial do Fandango Paranaense. A trajetória da Tia Mide, referência de cidadã com amplo reconhecimento pela comunidade por suas iniciativas sociais e culturais em Curitiba e no exterior, é marcada pelo vínculo com a terra em que nasceu e vive, com a força de sua ancestralidade e pela consciência socioambiental.
Jéssica conta que foi ‘despertada’ para finalmente realizar o projeto durante a produção do doc “Essa Terra não vai terminar”, em 2015, quando conheceu a pajé Izolina da Silva, que lhe disse: “Há muito a ser contado a quem queira se lembrar”. Com formação em produção cênica, a pesquisadora deu início então aos trabalhos da Cantarim, empresa dedicada a pesquisas da cultura tradicional e popular. A partir dali os encontros foram acontecendo entremeados de fortes emoções e do despertar de um sentimento de identificação, admiração e de reconhecimento da resiliência feminina. “O contato com a força espiritual ancestral que essas mulheres carregam me trouxe a necessidade de compartilhar esses saberes e presenças inspiradoras”, diz a diretora. “São mulheres reconhecidas em suas comunidades por seu conhecimento e ações; elas se tornam referências para outras mulheres, provocando articulações sociais e culturais. O Guiança veio para falar sobre isso”, completa.
Inicialmente, era para ser um filme sobre várias mulheres, mas Jéssica se deu conta que a potência delas exigia mais. “Seguir nessa pesquisa é também a minha caminhada, que se reafirma no convívio e no registro dos afazeres delas”, explica ela, que ficou impressionada ao conhecer a cacique Juliana, uma jovem liderança indígena, com quem passou a compartilhar reflexões e inquietações que geraram uma amizade profunda.
Mide, por sua vez, é curitibana como Jéssica. “É uma mulher que tem amplo e notório conhecimento pelos seus feitos nos diferentes frentes da cultura sócio ambiental e religiosa, especialmente na música. Sua relação com o Fandango se destaca na difusão de ações de conscientização realizadas com seu grupo, o Meu Paraná”, pontua. Jéssica espera com seu olhar agir para recuperar uma memória silenciada e que a experiência dessas relações possa operar como espelho, que outras mulheres identifiquem e reconheçam o valor de seus conhecimentos. Que a sociedade consiga ouvir e entender sem distorcer a fala e o valor delas. Elas despertam uma reverência, pela simplicidade, generosidade e humildade, que me afetam profundamente”.
“Projeto realizado com recursos do Programa De Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural De Curitiba, da Prefeitura Municipal de Curitiba e do Ministério do Turismo.”
Serviço:
O que: documentários “Elas são o Meu Início” e “Mide: Entre Costuras e Cantares.
Onde: www.cinepasseiodo.org – Sala Vitória Virtual.
Quando: 08/07/2021 à 14/07/2021. Basta acessar o filme na programação e receber o link de acesso.
Quanto: Gratuito
Bate papo com o elenco e equipe, no youtube: 09/07 às 19h. https://www.youtube.com/channel/UCjm_W3Nd_HuPHf6glQ2bLFw