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Rio de Janeiro

Cássia Kiss assassina seu eu público e ressuscita para os mortos

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O que a declaração da atriz diz sobre ela e a avalanche golpista no Brasil

Por Igor Horbach

Se casais homoafetivos não fazem filhos, tão poucos casais heterossexuais fazem caráter. A declaração grotesca e horrenda da atriz Cássia Kiss tem dado o que falar na internet, tanto por parte de pessoas centradas que repudiam fortemente as falas e posicionamentos dela, quanto por parte de pessoas desequilibradas que a apoiam. Toda a situação só piorou quando um vídeo viralizou no aplicativo TikTok em que a atriz é vista aplaudindo os golpistas no Rio de Janeiro que bloqueavam estradas. 

Cássia Kiss é uma atriz brasileira, nascida em 6 de janeiro de 1958 (64 anos) em São Caetano do Sul – SP e que iniciou a carreira na televisão em 1979 com a novela “Cara a Cara” (TV Bandeirantes). De lá para cá foram 9 peças de Teatro, 23 filmes no cinema nacional e 44 novelas e séries de televisão, sendo na maioria da Rede Globo. Atualmente, a atriz está vivendo o papel de Cidália na novela das 9h de Glória Perez, Travessia. 

O que ninguém esperava até o momento era que uma pessoa com tanto talento, vivências, currículo artístico e com grandes nomes das artes, seria capaz de deixar a inteligência de lado e partir para uma revolta negligente incapaz de perceber os verdadeiros impactos de suas falas. 

Em uma entrevista para a jornalista Leda Nagle, Kiss proferiu ataques de ódio e homofobia à comunidade LGBTQIA+ brasileira, sem pudor nenhum. Depois da repercussão do caso, os grupos ativistas dos direitos da comunidade citada, entraram com denúncias no Ministério Público do Rio de Janeiro (o mínimo) e boatos fortes surgiram sobre vários ataques homofóbicos nos bastidores da novela e até mesmo os chiliques da mesma contra os funcionários da produção de Travessia. Estaria Cássia Kiss, se perdendo nas personagens que viveu, desde mocinhas e vilãs? 

Talvez nunca saberemos o que de fato se passa com uma pessoa que chega neste estado de saúde mental, mas fato é que tais declarações públicas de uma pessoa famosa como Kiss, pioram ainda mais a situação social do país neste momento. Se a intenção da artista era  causar rebuliço no momento mais crítico e decisivo para a história do Brasil desde o fim do Golpe Militar em 1988, ela está de parabéns. O que me leva a pensar na possibilidade de Kiss não saber mais diferenciar o mundo real da ficção. 

Cássia se torna uma sagaz vilã que apenas quer saber de seus princípios, não importa a quem doer. Não interessa se alguém será morto nas mãos dos golpistas que a saudaram no começo da semana. O sangue derramado por suas falas será como suco de morango em seu café da manhã chique de sua mansão milionária? 

Não é crível que alguém com mais de 40 anos de carreira pública não tenha senso crítico e cognitivo para discernir o impacto de suas declarações, ainda mais, como já dito, em um momento tão delicado. É impossível em um mundo ideal que essas falas sejam passadas para debaixo do tapete e a vida siga normalmente, quando em paralelo, existem bloqueios em rodovias que culminaram até mesmo na perda de um coração que seria transplantado, na vergonha internacional que fizeram a nação brasileira passar e na histeria coletiva de se suplicar por algo devastador. É como se cada “cidadão de bem”, como a própria Kiss deve se autodeclarar, estivesse pedindo ao Diabo que tomassem as rédeas do país e lavasse com sangue de inocentes as ruas do Brasil, assim como aconteceu por 20 anos em um Golpe Militar. 

Cássia não apenas se declarou uma pessoa pútrida, como também se tornou uma golpista antidemocrática que se não contida, pode ser a causa de milhões de mortes injustas. Não por suas mãos diretamente, mas por se tornar o rosto de quem os loucos precisam. 

Além disso tudo, se tratando de 2022, onde todos aqueles capacitados cognitivamente de alguma mera inteligência coletiva sabem que a existência da comunidade LGBTQIA+ não é um risco a humanidade, mas que faz parte dela e a torna tão forte, resiliente e única, é de se admirar que ainda existissem pessoas como Cássia. Portanto, depois de um crime hediondo como este, todos seus anos de carreira construídos ao longo de, aposto eu, muito esforço e dedicação são apagados pela borracha da sensatez social. Cássia assassina seu próprio EU Público, enterra qualquer possibilidade de ressurgimento artístico, de classe e de relevância cultural para que agora, ressuscite diante dos inúmeros mortos cognitivos que apenas berram por intervenções ilógicas e clamam por um Deus que nem nas passagens mais secretas da Bíblia existe. Ela agora sai de cena definitivamente, assim esperamos, no palco da consciência e assume as câmeras da insanidade mental, localizado no que era chamado pelos antigos Gregos de Hades ou Tártaro. Como uma medusa, com suas cobras em formato de palavras ácidas e mortais, Cássia Kiss se aprisiona nas profundezas de uma terra amaldiçoada por eles mesmos, aqueles que queimam pneus, gritam e levantam bandeiras contra o simples ato verdadeiro e legítimo de qualquer ser humano: o de existir a sua maneira de ser. 

Agora, cabe à maior emissora do país, aceitar uma mente tão perigosa dentro de suas produções e na forma como impactam seus públicos tão diversos, depois de muitas evoluções artísticas ao longo dos anos ou fazer cumprir a legislação da federação. E mais do que isso, a lei da justiça social que já clama tanto por se fazer existir em um meio que deveria ser realidade e não meta.

Finalizo dizendo que Cássia Kiss figura não só artistas que estão dentro dos mesmos padrões, mas de toda uma sociedade que convém com seus comportamentos e compartilha de suas opiniões problemáticas, sem fundamentos, antidemocráticas e de caráter golpista, que precisa urgentemente ser contido e erradicado do planeta Terra antes que voltamos a ver figurar como Hitler e Bolsonaro tomar os poderes soberanos das nações e transformarem o resto do mundo em um verdadeiro apocalipse manicomial que resultará em sangue e extinção. 

 

É autor, ator, dramaturgo e produtor brasileiro. Nascido em Tangará da Serra – MT, publicou seu primeiro livro aos 14 anos e o segundo aos 16. Em 2017 se mudou para Curitiba onde iniciou sua carreira de ator, produtor e dramaturgo. Em 2019, produziu e dirigiu a serie Dislike. Em 2020 publicou seu drama de estreia, Cartas para Jack. Em 2021 lançou a série de contos intitulada Projeto Insônia.

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