Literatura
2022: O ANO EM QUE MAIS PRECISAMOS CONSUMIR LIVROS
Por Igor Horbach
Mais um ano começa e já entramos em 2022 com uma coluna literária para nos fazer refletir. Isso porque eu estive refletindo bastante sobre isso no meu curto período de férias. Em 2021 falamos muito sobre a importância da literatura para a construção social, as relações pessoais, no combate à ansiedade e até discutimos sobre as utopias que foram geradas como uma forma de representar ou espelhar a sociedade e o que se espera de nós. Para esse ano, talvez a minha ‘missão’ seja mostrar os impactos da ausência de conhecimento literário, seja qual gênero, em eleições presidenciais e como isso afeta todo o comportamento da sociedade brasileira. Você pode até sentir preguiça em relação ao tema e estar bocejando agora mesmo, mas não tem para onde fugir: Em outubro, você vai ter que apertar alguma coisa lá. E esse número vai condenar o país a algum destino, fracasso ou prosperidade.
Tentarei ao máximo voltar às nossas colunas deste ano para analisarmos uma ampla malha da literatura ao qual poderemos debater de forma significativa e profunda os temas mais importantes para uma sociedade: Direitos iguais, liberdade, educação e política responsável. Não tem para onde corrermos. E não, não estou falando de lado político, mas de consciência. Já não dá mais para ficar na era de 2018, acreditando em tudo que é postado na internet. Precisamos de embasamento teórico científico. Por isso, a proposta das leituras que serão debatidas não com opiniões interpessoais, mas com o alinhamento entre OPINIÃO e FATO CIENTÍFICO. Como em 2021, trarei dados, pesquisas, informações claras e confiáveis.
Sempre ouvi de pessoas próximas, e talvez eu tenha passado por isso algumas vezes também, que é difícil votar em alguém. Principalmente quando o indivíduo possui aquele pensamento de: “nenhum presta”. Talvez não sejam os políticos que o deixam confuso por não ‘prestarem’, mas a sua falta de conhecimento político, de consciência de classe, de compreensão teórica e análise prática. Não se sinta culpado, até eu mesmo sou desprovido de tais cognições. E não pense que estou tirando os candidatos da reta, viu. Tudo se trata de uma base sólida para ser capaz de avaliar o quê, quando, como e onde cada um vai investir e por isso ressalto a importância de leituras que possam ampliar nosso repertório de conhecimento cultural e impacto social.
E claro, a literatura não serve só para isso. O que faço aqui na coluna é trazer esse cunho sócio político para que possamos refletir nosso lugar no mundo, no país e na comunidade em que vivemos. Também, para que seja uma forma de compreender os acontecimentos que nos cercam, imaginar tempos e culturas diferentes. Os livros podem transcender qualquer conhecimento, vivência e expectativa. A junção de uma leitura com o olhar pessoal (isso é, da sua relação com aquelas palavras, descrição, personagens e história) com o olhar social (ou seja, de como aquela história reflete e se relaciona com a sociedade em que estamos inseridos) enriquece qualquer indivíduo que não quer ser apenas mais um, que não quer se deixar influenciar pela grande massa. O mais importante aqui é você criar a sua própria opinião, sabendo todos os prós e contras de defendê-la, todos os embasamentos e principalmente, os porquês que estão ao redor dela.
Para isso, preparei uma listinha de livros para lermos ao longo de 2022 que serão debatidos aqui na coluna. Alguns deles já bem famosos e clássicos. Se você os leu, assim como eu já li alguns títulos, proponho a releitura deles com essa lente diferente. Para os Curitibanos de plantão, a maioria deles você pode encontrar em alguma Casa da Leitura (a maioria nas ruas da cidadania):
1- Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (Clarice Lispector)
2- Germinal (Emílio Zolar)
3 – O Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)
4 – A Revolução dos Bichos (George Orwell)
5 – Religião e Repressão (Rubem Alves)
6 – Diário de Anne Frank (Anne Frank)
7 – O Sol é para todos (Harper Lee)
8 – Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)
9 – Torto Arado (Itamar Vieria Junior)
10 – A Resposta (Kathryn Stockett)
11 – Os meninos que enganavam nazistas (Joseph Joffo)
Todos os livros você pode encontrar na internet, livrarias físicas, sebos e/ou bibliotecas e CL´s (Casas da Leitura). Não importa quantos você vai conseguir ler no ano, o importante é ler algum. Todos eles são literatura, nada de teoria (ainda), pois assim, poderemos debater sobre os personagens, suas histórias, seus desafios pessoais e sociais e principalmente, suas ações perante os obstáculos. Em meio a dois anos pandemicos (com a possibilidade de um terceiro), uma gestão catastrófica, um movimento perigoso de ascensão de uma comunidade extremista, precisamos estarmos afiados. Ao longo do ano também vamos perpassando sobre os assuntos atuais e tentando relacioná-los com as leituras em andamento.
Se depois de tudo o que falei até agora, você ainda não compreendeu o porque precisamos consumir mais livros do que nunca durante 2022, aqui vai algumas explicações da forma mais ‘mastigada’ possível:
1 – Se trata de conhecimento.
2 – Reflexões e pensamentos, por mais que causem incômodo por ser de um teor político ou religioso diferente do seu, te proporciona capacidade cognitiva para compreender o que está ao seu redor;
3 – Se você não lê, fica parado no tempo igual um ‘bobão’ (para não dizer outro termo…).
4 – Em 2020, com a gestão atual e a pandemia, entramos no mapa da fome.
5 – Em 2020, deixamos queimar dois dos maiores biomas da Terra, Amazônia e Pantanal e agora sofremos as consequências.
6 – Em menos de 5 anos, ‘descobrimos’ pessoas (maioria negras e mulheres) em estado de escravidão, desrespeitando completamente todo e qualquer direito humano assegurados nacionalmente e internacionalmente.
7 – Em menos de 5 anos, a violência policial no Rio de Janeiro aumentou drasticamente a ponto de mais de 10 crianças serem mortas em um curto espaço de tempo.
8 – Resumindo, estamos vivendo um caos social, dentro de uma crise econômica causada por uma crise sanitária e política, que ainda por cima desencadeou uma crise ambiental jamais vista antes na história da humanidade.
E por aí vai…
É imprescindível que num ano como esse, depois de tantos acontecimentos trágicos, somados a desigualdade social e problemas de conduta federal, lermos o máximo possível para que não sejamos influenciado por pessoas de má índole e pensadores que colocam em primeiro lugar suas opiniões defasadas, sem cunho científico, ou pior, que coloca Deus como razão e centro de tudo.
“Uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada precisa de uma pedra de amolar para se manter afiada” – George R.R. Martin.
Igor Horbach
É autor, ator, dramaturgo e produtor brasileiro. Nascido em Tangará da Serra – MT, publicou seu primeiro livro aos 14 anos e o segundo aos 16. Em 2017 se mudou para Curitiba onde iniciou sua carreira de ator, produtor e dramaturgo. Em 2019, produziu e dirigiu a serie Dislike. Em 2020 publicou seu drama de estreia, Cartas para Jack. Em 2021 lançou a série de contos intitulada Projeto Insônia.