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Literatura

FICÇÃO CIENTÍFICA COMO DRAMA POLÍTICO

Publicado

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Por Igor Horbach

Se antigamente uma ficção científica era enquadrada como uma obra de ‘delírio’ com extraterrestres, viagens espaciais, colonização de outros planetas ou até mesmo uma sociedade pós apocalíptica, essa realidade vem mudando aos poucos para nossos olhos atuais, mas de forma ultra veloz aos da natureza. 

Quem não assistiu ao filme reboot Mad Max: Estrada da Fúria (2015) estrelado por Tom Hardy e Charlize Theron e acabou por pensar: Imagina viver um mundo assim? Na história vemos uma sociedade dividida em colônias comandadas por ditadores ultraconservadores que após a destruição em massa do planeta possui alguma fonte vital para a vida. Na colônia principal do filme, temos a disponibilidade de água, que acontece uma vez ou outra por parte de dutos liberados pelo próprio ditador e de acordo com o comportamento da sociedade. Afinal de contas, quem poderia imaginar que uma HQ teria tanto senso de realidade hoje em dia? 

Este mês a ONU publicou em seu Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) que a temperatura da Terra daqui para 2030 pode subir até 1,6º C, número que era previsto para 2040. Segundo a organização, isso é um alerta vermelho para a humanidade, pois nos próximos anos as coisas devem ficar mais aterrorizantes. Enchentes, furacões, seca extrema e prolongada são alguns dos desastres que estão por vir com força na segunda década do milênio. Evoluídos? Só se for no sentido de destruição global.  O relatório explica que isso se deve por conta do acúmulo de CO2 no globo e que a natureza, arruinada em mais da metade, não consegue suprir a demanda.

Coincidentemente, um mês antes o bilionário Jeff Bezo – fundador da Blue Origin e da Amazon – orbitou a Terra por alguns minutos e retornou posteriormente. Isso só foi possível pela quantidade de 0 em sua conta bancária que não é menor que US$200 bilhões. Com esse dinheiro dava para tirar a fome e pobreza do mundo e ainda sobrava pra viajar no espaço. O que isso quer dizer? 

As grandes empresas do mundo, como a Amazon, não estão preocupadas em salvar o planeta Terra. É algo difícil de acreditar, mas real: Querem colonizar outros planetas. A NASA divulgou em 2015 que pretende iniciar testes no planeta Marte – o que vem acontecendo desde 2020 – para que em 2030 possa adicionar uma colônia humana por lá. Coincidência? Acho que não. 

O que podemos aprender com os livros de ficção científica então? Bom, a resposta é simples e óbvia: Não são meras fantasias. Como já discutido por mim em alguns textos passados, a literatura não é algo que vem da imaginação aflorada dos autores, e sim uma interpretação plena da realidade e do contexto social em que está inserido, portanto, se vemos histórias de colonização em massa de outros lugares do sistema solar ou de apocalipses que extinguem a quase 0 a vida humana, podemos dizer que alguma verdade nisso tudo é existente. 

Você deve estar querendo rir da minha cara por estar falando que uma ficção científica é um drama político, mas vejamos os fatos: Em 1984 de George Orwell, o país vive em uma eterna guerra que ninguém vê ou sente, mas que é apenas dita pelos representantes. Além disso, a população não possui direitos nenhum de voz e livre arbítrio. Em comparação, depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos fechou acordo unilaterais com países do ‘submundo’ um tanto peculiares. Meses depois, ditaduras brotaram, como água na nascente, pela América Latina, África e Emirados Árabes. Não é segredo para ninguém que o país mais rico do globo financiou o Talibã no final do século XX. 

Outro exemplo que já usei em textos passados é da trilogia Jogos Vorazes. Suzanne Collins narra um mundo pós-guerra também ditatorial para mais da metade da população do país, mas completamente ilusório para uma parcela bem menor, no caso, o povo da Capital. Enquanto uns morrem de fome nos distritos (países do continente Africano, América Latina e Emirados Árabes), o pessoal na Capital (Estados Unidos e Europa Ocidental) tomam remédio para vomitar e comer mais. 

Interstellar (2014) no cinema foi muito aclamado pela crítica especializada, chegando a levar alguns Oscars, mas possui um drama político muito forte. No caso da narrativa, o grupo de astronautas precisa viajar por dentro de um buraco de minhoca (teoria proposta por Stephen Hawking para a astrofísica) e encontrar um novo planeta que seja habitável.  

Isso é possível como os astrofísicos e a própria Nasa já confirmou nos anos passados, mas a grande questão é: Quem vai ser levado para Marte nas colônias da agência espacial dos Estados Unidos ou em uma estação espacial que orbita a Terra, como na obra Best-seller The 100 de Kass Morgan? Se você pensou no grupinho do sr. Jeff Bezo, parabéns, você acertou. Mas e nós? Meros cidadãos brasileiros. Bom, se você quer um tutorial de sobrevivência, já pode começar a ver e anotar tudo de Mad Max: Estrada da Fúria, Jogos Vorazes e outras ‘utopias’ – nem tão utopias assim – do gênero. 

O fato é, estamos caminhando para a extinção humana e só não percebe isso dois tipos de pessoas: Aqueles que estão sentados esperando a volta de Jesus e os que tem algo a perder se mudarmos os rumos da coisa. Nosso fim está próximo. E não estou falando que precisamos erradicar o capitalismo e instaurar um comunismo no mundo inteiro, contudo se quisermos passar de 2050, necessitamos urgentemente adequar nosso estilo de vida. Infelizmente a meia dúzia de veganos não vai ajudar no combate ao desmatamento em massa para pastos, mas com certeza deve ser visto como um pontapé inicial para uma revolução de vida. 

Então, sim, a ficção científica explora o drama político da forma mais abstrata possível para conseguir atingir o máximo de pessoas possível. Infelizmente são poucos os que conseguem perceber isso. 

Igor Horbach

É autor, ator, dramaturgo e produtor brasileiro. Nascido em Tangará da Serra – MT, publicou seu primeiro livro aos 14 anos e o segundo aos 16. Em 2017 se mudou para Curitiba onde iniciou sua carreira de ator, produtor e dramaturgo. Em 2019, produziu e dirigiu a serie Dislike. Em 2020 publicou seu drama de estreia, Cartas para Jack. Em 2021 lançou a série de contos intitulada Projeto Insônia.

 

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