Teatro
“A Alma Despejada” com Irene Ravache é “Teatro de Ator
Por Leonardo Talarico Marins
O espetáculo “A Alma Despejada” é “Teatro de Ator”. Teresa, interpretada por Irene Ravache, faz sua última visita a casa onde morava e perpassa memórias e reflexões existenciais. No melhor estilo “ninfa”, onde o ator tem por função trazer à baila os valores humanos estruturais ao seu público, Irene Ravache atua com êxito. Focada no esclarecimento e horizontalizada, a grande atriz perpassa com sabedoria o arco dramático da sua personagem, alterna a voz lírica com a voz épica, bem modula todas as informações dramáticas e distribui mensagens por todas as fileiras. Por fim, coloca sua dor em um lugar nobre.
O cenário e adereçamento são um tanto assépticos, mas bem molduram a obra. O figurino e a trilha sonora seguem igual caminho. Todos com êxito. O desenho de luz ressalta a passagem cênica e atividade dramática. A dramaturgia é de valor e se oferece ao Teatro. Bom ouvir o texto mediante competente atuação. Há interessantes reflexões sem carregar peso desnecessário ao público. Tudo muito equilibrado. Apenas a dor devida. A direção, sabiamente, entrega a encenação a Irene Ravache. Ao assistir Ravache destrinchando com maestria o passado da sua personagem, lembro de uma importante crítica do passado que entendia tal procedimento como um não-Teatro por ausência de ação dramática, como se atores e atrizes não pudessem atuar em memória, mas apenas no tempo presente. Com todo respeito, relembrar é ação dramática, contação de história, no melhor estilo cênico estrutural. Ação dramática não é apenas o fazer em cena. Ação dramática também é transferência da ação física à psicológica. Um espetáculo importante em reflexão e admiração. Irene Ravache é um deleite. Um privilégio.