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Teatro

Virginia

Publicado

em

por Leonardo Talarico Marins

O Teatro é uma arte eminentemente colaborativa. E o referido pilar cênico resta explícito no espetáculo “Virginia”, sobre a autora inglesa Virginia Woolf, decorrente de uma pesquisa realizada pela atriz Cláudia Abreu por mais de cinco anos. Antes, por importante, impõe ressaltar ser o primeiro “monólogo” interpretado por Cláudia, que o concebeu com os seus próprios recursos (em prol da liberdade da montagem) e dramaturgia inspirada nas múltiplas vozes de Woolf, cuja vida deveras intensa impossibilita não falar em primeira pessoa. E Cláudia o faz com primazia.

Virginia é um espetáculo de atriz. Todo “lixo cênico” é abandonado, haja vista não existir mínimo elemento cenográfico. Em cena, opera, prima facie, o seguinte quarteto: Cláudia Abreu, Amir Haddad (diretor do espetáculo), o desenho de luz e os efeitos sonoros. Temos a sensação de que Cláudia e Amir fundiram-se como Elis e Tom, no festejado álbum de 1974, pois a integração libertária é clara. Elis adornada com os seus brilhantes excessos e Tom com o seu minimalismo.

No presente espetáculo, invertem-se os gêneros. Abreu teatraliza o Carnaval (ocupação minimalista) e Amir (ocupação expansiva) carnavaliza o Teatro. Se olharmos com cuidado, encontraremos vestígios, movimentos e melodias do “Tá na Rua” na Peça em análise. Não que tenha ocorrido direta indicação. É o campo da comunhão construtiva da personagem. Por vezes, sentimos Woolf com vozes líricas em confissão, repleta de tragédias e acontecimentos dentro do peito de Cláudia e, por vezes, bailando de maneira lúdica no bairro da Lapa. E todas absolutamente coadunadas.

O espetáculo desfila sua dramaturgia de maneira bem delineada, com eventos impactantes. O desenho de luz oferece uma ambiência dramática-estética muito interessante no acompanhamento da atriz. A luz está a serviço da obra. De muito bom gosto. No mesmo diapasão, os elementos sonoros oferecem marcações de ações emocionais e movimentos, além de trazer volumetria ao espaço cênico. Por oportuno, destaque à brilhante operação do espetáculo, pois luzes e sons entram em momentos cirúrgicos e de manejo preciso. A interpretação é comovente, corajosa e oscila entre a “interpretação” e “apresentação”, ora focada nos verbos e, em sua maior constância, direcionada à melodia frasal. Tudo decorrente das múltiplas e impactante vozes aflitivas de Virginia sobre o Tablado.

Claudia Abreu possui absoluto pertencimento do espetáculo e entrega uma atuação contundente, distante de amarras. Realiza o seu sonho, e, para a nossa felicidade, coloca-nos dentro. Espetáculo para ser visto e reverenciar a força motriz das artes cênicas.

FICHA TÉCNICA:
Idealização Dramaturgia Atuação: CLÁUDIA ABREU
Direção: AMIR HADDAD
Codireção: MALU VALLE
Direção de Movimento: MARCIA RUBIN
Figurinos: MARCELO OLINTO
Iluminação: BETO BRUEL
Trilha Sonora: DANY ROLAND (com colaboração de José Henrique Fonseca)
Operação de som: BRUNA MORETI
Assistente de iluminação: IGOR SANE
Operação de som nos ensaios: MÁXIMA CUTRIM
Design gráfico: CAROLINA PINHEIRO
Fotos: ROGÉRIO FAISSAL, PABLO HENRIQUES e JOSÉ HENRIQUE FONSECA
Assessoria de Imprensa: VANESSA CARDOSO e PEDRO NEVES
Direção de Produção: DADÁ MAIA
Produtores Associados: CLÁUDIA ABREU, DADÁ MAIA e MARIO CANIVELLO

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