Curitiba
Será o fim do Jornalismo Cultural?

por Vanessa R Ricardo
São mais de treze anos dedicados à divulgação da arte e da cultura em Curitiba. Um trabalho quase diário, feito com entrega, paixão e, sobretudo, resiliência. O amor que sempre tive por esse universo facilitou o caminho — e talvez por isso nunca consegui fazer esse trabalho pela metade. Me joguei de corpo e alma.
O Jornal A Cena nasceu a partir da inspiração e do incentivo direto de João Gilberto Tatára, ainda no início da minha trajetória no jornalismo cultural. Se não fosse por ele, talvez o jornal nunca tivesse saído do papel. Foi ele quem me mostrou que havia espaço — e, mais que isso, necessidade — de uma imprensa que olhasse com atenção para a produção cultural local.
Desde então, venho refletindo sobre os desafios de se fazer jornalismo cultural no Brasil. Não é novidade que essa é uma das primeiras áreas a sofrer cortes dentro das redações. Basta observar a redução drástica dos cadernos culturais nos jornais e o número cada vez menor de jornalistas especializados com vínculos formais. A cultura, infelizmente, ainda é vista como algo supérfluo por muitos.
Meu trabalho nunca foi voltado apenas à classe artística curitibana — embora divulgue com carinho e atenção o que é produzido por ela. Sempre tive como objetivo levar a arte e a cultura para o público em geral. Acredito que, neste mundo tão conturbado, enlouqueceríamos sem teatro, cinema, literatura e música. Para mim, arte e cultura são como arroz e feijão: fundamentais, essenciais. Sem elas, nos tornamos duros, insensíveis, desconectados daquilo que nos torna humanos.
Mas, com o passar do tempo, venho sentindo um certo distanciamento por parte da própria cena artística local. Não é de hoje que não me sinto acolhida pela classe. Esse sentimento se intensificou nos últimos anos, especialmente diante de eventos e festivais que sequer nos convidam — mesmo sendo o Jornal A Cena um dos veículos culturais mais antigos da cidade.
Entendo que o mercado muda constantemente. Hoje, a atenção parece se concentrar quase exclusivamente em números de seguidores. Mas, quando tenho a oportunidade de conversar com um possível investidor ou apoiador, sempre digo: minha audiência pode não ser tão numerosa quanto a dos influenciadores digitais, mas é uma audiência qualificada. Quem acompanha o Jornal A Cena consome arte e cultura de verdade.
Este texto é, sim, um desabafo. Mas também é um alerta — ou, se preferirem, um puxão de orelha — para os assessores, produtores culturais, e instituições, especialmente de Curitiba, que, por omissão ou conveniência, estão contribuindo para o desaparecimento da imprensa cultural especializada. O maior exemplo disso é ver veículos tradicionais da cidade se transformando em perfis de divulgação genérica de entretenimento nas redes sociais.
Pela lógica capitalista, talvez esse caminho fosse mais fácil. Eu mesma já fui incentivada, diversas vezes, a mudar o foco do Jornal A Cena. Mas sempre fui firme na decisão de continuar fazendo jornalismo cultural. Acredito que, em muitas situações, somente o jornalismo — com apuração, contexto e reflexão — dá conta do que realmente importa. Mas essa é uma conversa que podemos aprofundar em outro texto.