Música
Mistura Fina – Das ruas aos palcos, dos palcos às ruas!
Por Giseli Canto
Uma voz doce, afinada, com uma extensão rara, sem excessos de melismas e vibratos, com drives colocados na medida certa da canção. Assim é Wes Ventura. Vive das ruas, dos bares, das apresentação em espaços alternativos e carrega muitas histórias com seu instrumento invertido.
Conheci esse artista cantando nas ruas e outras vezes em bares. Ouvi e assisti alguns vídeos em seu canal do YouTube e me apaixonei pelo estilo muito pessoal de se apresentar. No palco ele é didático, mesmo sem saber que está sendo. Conta as suas histórias e das músicas que canta. Muitas vezes revela como resolve suas leituras musicais e como chega nos resultados dos arranjos que finaliza. Cheio de estilo, é um cara positivo, sem amarras, sem lamentos, bem humorado e que usa o seu sucesso com o público a seu favor. O que favorece suas apresentações. Parece um grilo falante! Sujeito lesto, suave e vaporoso, ao mesmo tempo profundo na bagagem. Sabe aquela pessoa que vaporiza alegria no mundo? É ele! Wes hoje vive em Curitiba com sua linda Catarina Bertúlio.
Penso que é muito difícil dividir os espaços urbanos com a população. Tem gente que gosta e pára pra ouvir; outros passam e apenas olham; alguns deixam uns caraminguás; outros poucos, graúdos. Com certeza, transforma o dia das pessoas e dá vida a cidade.
Seu violão canhoto, anuncia uma inversão de valores. Ainda existem pessoas que acham que artistas de rua são vagabundos. Esses “vagabundos”, estudam pra fazer o melhor pra cidade e levam a sério seu trabalho; passam apuros inimagináveis, como se livrar da polícia e da fiscalização. Trazer esse repertório com emoção e qualidade, demanda tempo, dedicação, ensaio, disposição em equipe, união, pensamentos alinhados!
Mesmo tendo alvará pra se apresentar, são muitas vezes abordados pela Secretaria de Urbanismo, da Prefeitura de Curitiba, por fiscais acompanhados da PM. Como se estivessem cometendo um crime. Claro que os autofalantes de carros de som dos candidatos políticos podem. Muitas outras coisas podem! Como gritar em megafones anunciando uma oferta de almoço dos restaurantes centrais; venda de bilhete da loteria; promoção das lojas. Pode tudo, só não pode ter música pra alegrar a cidade.
Por que não existem projetos para que músicos possam tocar nos mais variados lugares da cidade de Curitiba, com remuneração digna e planejamento sustentável? Intervenções urbanas por meio da arte podem transformar a vida da cidade, das pessoas, gerar renda e fazer movimentar a economia. É possível humanizar com mais participação da música nos espaços públicos, com diversidade cultural expressada na formação da identidade social.
Esses artistas independentes fazem a diferença no povo e na cidade. Deixa tudo mais iluminado e alegre porque transforma o dia daqueles que passam. Curitiba é uma metrópole que precisa de arte pulsante em seu cotidiano. Cidade sorriso? Numa tentativa exacerbada de reverter a antipatia que seu povo sofre, a cidade recebeu esse slogan. Então, por que não tornar isso verdadeiro e dar a seu povo mais alegria?
Conversei com Wes Ventura, artista sensível, que luta com muita determinação pelo seu trabalho.
GC: como foi sua trajetória até chegar aqui?
Wes: sou nascido em Barretos – SP interior de São Paulo, a cidade da riscada de viola, do sertanejo raiz, da moda de viola, do Santo Rei, da catira. Eu vim direto de Barretos – SP aqui pra Curitiba sem ao menos ter conhecido a capital de SP. O que me trouxe até aqui foi um sonho vivo dentro de mim, que era viver da minha arte.
GC: Quanto tempo se apresentando nas ruas?
Wes: Eu comecei a tocar nas ruas de Curitiba em 2016 junto do meu amigo conterrâneo Abelha Lima, na rua XV nos apresentávamos com o duo A Poltrona e vendíamos nosso disco autoral Street Version. Faz seis anos que vivo da minha arte em CWB. Antes de cantar nas ruas, eu também me apresentei pelos ônibus da cidade, especificamente no Inter 2 que era nosso palco show – trabalho que rende muito mais do que os trocados pra pagar as contas e as luxúrias. Tem muita emoção, muita troca, muita magia, crianças sorridentes, gente se permitindo a dançar; ali acontece o encontro e o respeito às diferenças, em nome do amor que a música transmite.
GC: A sobrevivência tem que ser calculada pro pão não faltar?
WES: em tempos pandêmicos sem dúvida, nossa classe foi super afetada durante a pandemia, somos sobreviventes por estarmos aqui com toda força e disposição pra produzir e criar algo novo né?
GC: Trabalho novo!
WES: A gravação do meu primeiro álbum acontecerá com a verba arrecadada num financiamento coletivo pela plataforma Catarse, que será lançada ainda até março desse ano. Primeiro Álbum Wes Ventura.
GC: Como conseguiu se virar durante a pandemia?
Wes: O que fiz pra sobreviver durante a pandemia, foi me adaptar ao novo mercado online de lives e, também como compositor, cantor, fiz alguns trabalhos privados; vídeos cantando alguma música especial pra pessoa; compus pra algumas pessoas e fiz serenatas também.
—
Você já parou pra ouvir? Já se perguntou porque estão ali tocando por horas? Você sabe de suas vidas, como sobrevivem, moram, comem, sustentam suas famílias?
Assista o vídeo de Wes Ventura nas ruas de Curitiba:
Semana que vem eu falo com uma empresária de Curitiba, produtora cultural, que incentiva a música de qualidade e os artistas e músicos que residem em Curitiba. Acompanhe aqui!
—
Você poderá discordar, perguntar, não entender direito, mas precisa gostar de estar aqui comigo! Do contrário não vale a pena!
Espero você!
—
Siga também: https://www.facebook.com/misturafinaarte
José Oliva
2 de março de 2021 at 09:50
Muito legal de ler sobre o Ventura. Sou fã dele, todo domingo uminando a Feira do Largo. Viva a nossa música do mundo. Parabéns pela matéria!!
Giseli Canto
7 de março de 2021 at 14:54
Obrigada José!
Temos um compromisso com a cultura.
Abraço!