Interaja conosco

Teatro

El Favor – Uma obra para dar boas risadas e ficar de olhos fechados porque imaginar é melhor do que a realidade

Publicado

em

por Leonardo Talarico

Assisti no Teatro Goya, em Barcelona, na última semana, ao espetáculo “El Favor”, uma “comédia-dramática” dirigida por Xavier Ricart. A obra se passa em um encontro (jantar) de amigos onde será feito, por um deles, um pedido inusitado (doação de sêmen).

Os quatro atores cumprem suas funções. Todos operam em bom ritmo cômico, com esclarecimento, interação e cadência. Observações negativas a fazer só por filigranas ou implicância. Não o farei. O coletivo é homogêneo e realiza o mesmo espetáculo. A direção merece crédito também pelos atores postos em cena, mas paramos os elogios por aqui.

A montagem é primária, os ligames entre as cenas obedece lugar comum, ausente quebra de expectativa ou certa atuação mais inventiva. Vejamos: o cenário é hiper-realista, como se uma loja de departamentos tivesse feito uma vitrine. E me parece, ao ler os agradecimentos, ter sido exatamente o ocorrido. O cenário é asséptico. Ninguém “vive” naquela casa. Não existe mínimo elemento humano.

Há durante todo o espetáculo apenas uma mudança de luz que, por sinal, é, a todo tempo, uma luz de serviço sobreposta a luzes indiretas, como se tivessem sido acendidas todas as luzes da casa. Não há sombra. A iluminação é um sol de meio dia parado no relógio por 120 minutos. O figurino traz uma questão interessante: assim como não se caminha no palco como na rua (antropologia teatral), não vestimos no palco o vestido na rua. Outra vez, como no cenário, é um figurino hiper-realista saído de uma loja de departamentos. Solas brancas de tênis e sapatos intactas, roupas sem paleta de cor estudada etc.

A trilha sonora tem um momento, a música Take Five, do Dave Brubeck, mas também sem qualquer pertinência temática. É lançada no acaso. Portanto, todos os alicerces técnicos utilizados à construção Teatral não agregam mínimo valor simbólico e entediam a plateia. A direção de movimento é televisiva. O elemento dramático é singela pontuação à continuidade cômica. A plateia é tão esgarçada a gargalhar que o apontamento dramático chega já ridicularizado. O andamento da obra é jogral, como por exemplo, nas cenas onde todos dizem uma frase. Não bastasse, existe uma necessidade de caminhar freneticamente na obra, sem pausas ou falas líricas. Talvez pela fragilidade dramatúrgica. Uma obra para dar boas risadas e ficar de olhos fechados porque imaginar é melhor do que a realidade.

Comentar

Responder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seja nosso parceiro2

Megaidea