Interaja conosco

Literatura

Após casos de censura, vendas da obra “O Avesso da Pele” de Jeferson Tenório, cresce 400%

Publicado

em

Por Vanessa R Ricardo

Quando li que o livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, sofreu censura em uma cidade do interior do Rio do Sul, me lembrei do filme, Fahrenheit 451, o primeiro filme a cores e de língua inglesa do diretor francês François Truffaut. O longa lançado em 1966 é uma adaptação do livro homônimo de Ray Brandbury, que conta história de uma sociedade do futuro que baniu os livros, e os bombeiros tinham como trabalho, manter as fogueiras a 451 fahrenheit e queimar todos os livros que ainda restavam.

É inadmissível pensar que ainda hoje, em pleno século 21, autores e artistas sofram censura, e não foi só em Santa Cruz do Sul, que o livro de Jeferson Tenório, sofreu repressão. O Governo do Paraná anunciou no início de fevereiro a retirada da obra de todas as bibliotecas das escolas estaduais, ligadas ao Núcleo de Curitiba. O motivo, segundo nota divulgada pela Secretaria da Educação, é uma reavaliação pedagógica do livro”.

O professor Jeferson Tenório, nascido no Rio de Janeiro em 1977, é radicado em Porto Alegre, é doutor em teoria literária pela PUC-RS, e estreou na literatura em 2013 com o romance “O beijo na parede”, eleito como o Livro do Ano pela Associação Gaúcha de Escritores. Em 2018 lançou o romance “Estela sem Deus”. O Avesso da Pele, lançado pela Companhia das Letras em 2020, foi vencedor do Prêmio Jabuti na categoria “Romance Literário”. Um livro sobre identidade racial e complexas relações raciais, uma obra contundente no panorama da nova ficção literária brasileira.

O Avesso da Pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família, refazendo os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, em um denso relato sobre relações entre pais e filhos.

Após o caso de censura, o livro registrou aumento de vendas tanto nas livrarias físicas quanto nas digitais. Na terça-feira, 06, na plataforma da Amazon, a obra figurava em quinto lugar entre os livros mais vendidos do Brasil. Na categoria “Ficção Literária, Literatura e Ficção”, figurava em segunda colocação. De acordo com a assessoria de imprensa do portal, desde sexta-feira (1º) houve um crescimento de 400% nas vendas da obra.

Caso de Censura

A diretora da Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira, de Santa Cruz do Sul, publicou um vídeo em sua rede social, criticando o livro, segundo ela a obra teria um vocabulário de baixo nível. Na postagem, ela criticou o governo federal e pede para que o Ministério da Educação buscasse os exemplares que não serão usados pelos professores.

Após repercussão do vídeo divulgado pela diretora e de uma moção de um vereador, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação, mandou recolher os livros. Jeferson Tenório em sua rede social escreveu: “As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”, escreveu Jeferson.

Em nota, a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul disse que não orientou para que o livro fosse retirado das bibliotecas da rede estadual de ensino.

No Paraná a obra também vem sofrendo censura, por parte do governo do estado. Para o APP-Sindicato, que representa professores e profissionais da educação, a decisão do governo de Ratinho Junior em recolher os livros das bibliotecas nas escolas, é um ato de censura. “Esse episódio entra para história como um dia triste e reforça a necessidade de combater a contaminação da educação pública paranaense por ideologias extremistas, conhecidas pela negação dos direitos humanos e por atentar contra a democracia, a cultura, a diversidade e a pluralidade de ideias”, disse a nota.

Após os casos de censura, intelectuais de todo Brasil, como: Ailton Krenak, Antônio Fagundes, Drauzio Varela, Djamila Ribeiro, Mia Couto e Ziraldo, lançaram e assinaram o manifesto “Contra a Censura à Literatura de Jeferson Tenório”, em defesa da obra.

“Ferem de morte a democracia, o direito de um autor se expressar, tiram a oportunidade de alunos entrarem em contato com textos escritos que foram observados e selecionados por comissões especializadas e preparadas para levar qualidade ao ensino”, diz o manifesto.

Em nota divulgada pelo Secretaria da Educação diz: “A medida visa apoiar os professores no trabalho pedagógico aliado ao currículo e aos objetivos de aprendizagem em cada uma das etapas de ensino a partir do conteúdo expostos nas obras literárias disponíveis. A análise do livro, porém mostrou-se necessária pelo fato de que, em determinados trechos, algumas expressões, jargões e descrição de cenas de sexo explícito utilizados podem ser considerados inadequados para exposição da menores de dezoito anos”.

 

 

Comentar

Responder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seja nosso parceiro2

Megaidea