Opinião
Antes tarde do que nunca
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por Leonardo Talarico Marins
Tivemos, na semana passada, homenagem ao Teatrólogo Amir Haddad realizada pelo prêmio Shell de Teatro. A classe Teatral assim opera: após largo período de ostracismo, resgata seus ícones.
Tenho o privilégio de conviver com o mestre Amir há doze anos. Além de supervisionar a minha companhia de teatro, tornou-se um dos meus amigos mais próximos. A referida aproximação deu-me oportunidade de conhecer sua intimidade, ideais e realidade. E confesso reconhecer nele uma das figuras mais honestas intelectualmente nas artes cênicas. Amir não vive da sua ideologia, conforme Cazuza denunciou terceiros. Sobrevive imerso no seu sentido de vida. E o termo sobreviver não é hipérbole. Não foram poucas vezes que a dificuldade bateu sua porta e o fez ratificar seu compromisso de não se curvar à política cênica. O “Tá na Rua”, capitaneado por Amir Haddad, não é uma companhia de teatro, mas uma instalação da sua percepção artística mais profunda. E tal compromisso nem sempre encontra reconhecimento financeiro. Amir Haddad e Zé Celso caminharam juntos até a brusca separação. Zé Celso nos deixou. Amir poderia ter nos deixado. Bom termos tido a oportunidade de apresentar um dos maiores teatrólogos brasileiros, por meio da premiação, à presente geração cênica egoica intelectual que ignora a relevância de um mestre por razão das bolhas acadêmicas. Não foram poucos atores e atrizes que precisei explicar sobre Amir. E digo explicar em termos Wikipédia. Não o Haddad que desfruto intimidade. Há histórias, pensamentos e dificuldades tão íntimas que apenas se narra em primeira pessoa. Enfim, o Brasil tem por atraso, em seus múltiplos setores, o reconhecimento e aproveitamento dos seus pilares. É muito lindo assistir as homenagens aqui e acolá, mas, conforme anedota popular, importante perguntar ao homenageado se ele não prefere receber o prêmio em “espécie”. Que Amir Haddad possa ser contemplado nas leis de incentivo e, sobretudo, utilizado pelos órgãos públicos na formação de plateias e profissionais cênicos Brasil afora, em uma modalidade de Teatro “para inglês não ver”.