Interaja conosco

Opinião

Ana Lívia: um espetáculo estranhamente divertido e poético

Publicado

em

por Vanessa R Ricardo @vanessariricardo

Não é sempre que temos a oportunidade de ver no mesmo palco Bete Coelho e Georgette Fadel, grandes atrizes do teatro brasileiro. E como é bom vê-las no palco. São grandiosas.

Com dramaturgia do professor e escritor curitibano Caetano Galindo, Ana Lívia é muitas coisas, entre elas uma bela homenagem ao próprio teatro. Há ali uma grande quebra da quarta parede. Na verdade ela não existe: o público está ali e faz parte da história como observadores de uma sala de ensaio ou de um próprio palco, acompanhando os devaneios das irmãs atrizes.

A proposta cênica parte de um jogo entre elas, um espetáculo de atrizes, com uma direção impecável, assinada por Daniela Thomas, com marcações de luzes perfeitas que deixam qualquer um de boca aberta. O desenho de luz, inclusive, foi feito pelo talentosíssimo Beto Bruel. Um espetáculo com diversas camadas, num jogo entre as atrizes, onde dizem nada e tudo ao mesmo tempo. O dizer, e o não ouvir. A ação e a inércia. Inclusive o trabalho de corpo é outro destaque.

A dramaturgia de Galindo é sofisticada, costurada em um jogo de devaneio, onde a arte se confunde com a realidade. Dois personagens para um único papel. O espetáculo é uma celebração ao fazer teatro, mas não é só de teatro que se faz a peça. Ana e Lívia falam sobre o fim, a morte e o terceiro ato, mas sem perder o humor. Bete arranca do público aplausos, quebrando o protocolo teatral, enquanto Georgette em sua personagem jovial e divertida arranca risadas da plateia.

Das boas esquisitices de Ana Lívia, a peça lembra em muitos momentos um monólogo, se não fosse pelas duas atrizes. Muitas vezes temos a impressão que são uma única personagem. Ana se torna Lívia e Ana, Lívia. Como se fossem uma mesma gota do mesmo oceano. Falando em oceano, a água também se faz presente, seja pelo som criado pelas próprias atrizes ou pela sonoplastia, a água está ali, como símbolo, representando a fluidez e o tempo.

O espetáculo é um fenômeno de atuação, como é bom ir ao teatro e ver Bete e Gerogette juntas, apostaram em uma representação grande, bastante over, mas essa é a proposta. Por se tratar talvez de uma disputa entre o papel da protagonista, elas exageram da atuação, na carga dramática, deixando o espetáculo engraçado. Brincam e debocham delas mesmas, do ser atriz e do fazer teatro, que as vezes cai no caricato. Mas no caso de Ana Lívia, tudo foi pensado, planejado. E mais esquisito que isso parece ser, elas e Ana Lívia são gigantes.

Uma peça para ver e rever.

O espetáculo é uma montagem da Cia Br 116, tem no elenco Bete Coelho e Georgette Fadel. Direção de Daniela Thomas e co-direção de Bete Coelho. Dramaturgia de Caetano W. Galindo. Desenho de Luz de Beto Bruel. Direção Musical de Felipe Antunes.

Comentar

Responder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seja nosso parceiro2

Megaidea