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Slam das Gurias define vencedoras da final classificatória para o Campeonato Estadual de Poesia Falada

Pelo segundo ano consecutivo, a poeta Trava da Fronteira representará o coletivo na competição estadual. O evento foi realizado na Casa de Pandora no último domingo (17) e contou com a participação de mais de 50 pessoas
A final classificatória do Slam das Gurias, realizado no último domingo (17), definiu a poeta que representará o coletivo no Campeonato Estadual de Poesia Falada – Slam Paraná. Após as batalhas de poesia entre os sete finalistas participantes desta edição, a classificação geral apontou a primeira colocada, a poeta Trava da Fronteira, que avançou diretamente para a fase estadual, que definirá quem representará o Paraná no Slam Brasil, em dezembro, no Distrito Federal. As poetas Vênus e Clau Fernandes ficaram, respectivamente, em segundo e terceiro lugar na competição.
Os três primeiros lugares foram decididos por um corpo de cinco jurados, escolhidos aleatoriamente na plateia, que dão notas de 0 a 10. A cada rodada se classificam os poetas com maior nota até que um deles se torne campeão.
A disputa foi realizada na Casa de Pandora, em Curitiba, com entrada livre e gratuita, onde mais de cinquenta pessoas estiveram presentes. Além da competição, o evento teve microfone aberto para apresentações poéticas, com protagonismo exclusivamente feminino e trans. “A Grande Final foi inspiradora, a casa estava cheia e o público esteve atento a cada poesia, sorrindo, se emocionando e torcendo para as apresentações. Apesar da competição acirrada, nosso objetivo é muito maior do que descobrir quem o júri julga como melhor poeta. Nosso objetivo é fazer as vozes historicamente marginalizadas ecoarem cada vez mais forte”, destacou Jaquelivre, uma das produtoras do Slam das Gurias.”
Fundado em 2019 pelas poetas Gabriela, Jaquelivre e Soul Dani, o Slam das Gurias já realizou 45 batalhas, incluindo edições itinerantes na periferia de Curitiba, descentralizando o acesso à arte e fortalecendo a cultura periférica. Inspirado pelo Slam das Minas, de São Paulo, o projeto busca criar um espaço de expressão, resistência e empoderamento por meio da poesia falada. As edições mensais, realizadas em praças e espaços públicos, também oferecem oficinas e intervenções poéticas.
Para Jaquelivre, as batalhas de poesia realizadas pelo Slam das Gurias mostram que a poesia falada é transversal às existências, pois se tornam uma ferramenta de tradução das realidades que são ignoradas pela sociedade. “O slam é uma linguagem das ruas, que une oralidade à performance teatral, visual e literária. Os poetas podem rimar sobre qualquer tema – dor, amor, família, identidade, sexualidade – com total liberdade para explorarem o próprio fazer artístico. São nesses espaços que a maioria de nós encontra a própria voz, que se conecta através das dores e das lutas em comum”, completou a produtora.
Na final deste domingo, os vencedores receberam, além do prêmio em dinheiro, livros doados pela Freguesia dos Livros. O evento contou com apoio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Ministério da Cultura, Secretaria Estadual de Cultura e Governo Federal.
Confira abaixo trechos das poesias declamadas pelas três vencedoras desta edição:
“Eu tô cansada!
De ser refém de certo padrão estético
De ter que pedir desculpa se toda poesia minha
Não tem compromisso moral ou ético
A verdade é que sinto meu corpo fazer sentido
A cada “bam!” de aplicação de estradiol sintético
Me desculpa se a minha travestilidade disfórica
Me desculpa se a minha travestilidade dismórfica
Me desculpa se às vezes eu olho um corpo cis
E vejo nele um ponto de chegada da minha história
Eu tô cansada!
Dívidas, boletos, ofertas precárias
Se me vê trava paga pelo sexo
Se me vê artista é ação voluntária!”
(1º Lugar – Trava da Fronteira)
“Eu já vendi minhas canetas pra poder almoçar
Pra matar minha sede, aprendi a chorar
Hoje eu moro numa kit de duas peças
Que pra mim é uma mansão
E me orgulho de por comida na mesa
sem precisar por calcinha no chão!
Por que o que eles chamam de “caminho mais fácil”
Sempre termina com meu corpo
no colchão ou no caixão
E para vocês eu viro mais uma notícia
sem nome na televisão:
“Jovem negra é encontrada…”
Não! Não! Não! Não!”
(2ª Lugar – Poeta Vênus)
“Ficou comigo e ganhou
É, ganhou!
O prêmio direto da mão das enjoadas,
mas se me vê na rua depois disso
É só a distância e a mão esticada!
Foge do beijo no rosto
Como se eu fosse
por você emocionada?
Cis….
Você não sabe de nada!”
(3ª Lugar – Clau Fernandes)