Literatura
5 autores negros para você conhecer
Por Gaby Lara
O dia 20 de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra, mais que um dia de celebração, é um dia dedicado à reflexão, um dia político que representa a resistência e a luta por direitos da população negra. A data foi instituída no Brasil através da lei nº 12.519 em 10 de novembro de 2011. O dia escolhido, faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, ocorrida em 1695, o último líder do quilombo dos Palmares.
E para uma melhor conscientização, nesse post trazemos 5 autores negros e suas obras, pois não basta indicar livros escritos sobre a questão racial, é preciso ler obras que tragam o ponto-de-vista de quem sofre a discriminação (e nem sempre esta é a questão central de suas obras).
1.Conceição Evaristo
Uma das mais importantes vozes da literatura brasileira contemporânea, Conceição Evaristo é muitas vezes comparada a Carolina Maria de Jesus, tanto por sua história pessoal (foi empregada doméstica até os 25 anos, hoje é doutora em Literatura Comparada) quanto por uma obra literária que denuncia a condição da mulher negra. Mais do que isso, ela causa um necessário incômodo ao falar continuamente sobre a perpetuação de estruturas sociais que fazem com que escritores negros e periféricos tenham imensas dificuldades em chegar no mainstream literário. Depois de iniciado o movimento popular defendendo sua eleição a Academia Brasileira de Letras, ela de fato protocolou sua candidatura, mais como provocação do que por vontade genuína de fazer parte da casa. Aliás, Conceição foi voz fundamental nos protestos contra a falta de diversidade na Flip e que culminaram numa revisão radical da curadoria do festival. Da autora, o Lombada leu e recomenda fortemente o romance Ponciá Vicêncio, além de Poemas da recordação e outros movimentos e o de contos Olhos d’água.
2. Marcelo D’ Salete
Desenhista e historiador, o paulista Marcelo D’Salete ganhou o Prêmio Eisner 2018 com a graphic novel Cumbe. Junto com seu livro posterior Angola Janga, que oferece uma perspectiva incrível sobre a história dos quilombos brasileiros. Além do trabalho artístico primoroso e cheio de personalidade, D’Salete trabalha o ambiente político dentro e no entorno dos quilombos, explorando, inclusive,as discordâncias entre os líderes Zumbi e Ganga Zumba, que acabam enfraquecendo a coesão de Palmares e contribuindo para sua queda. Nem os grandes personagens da história são imunes a contradições, e escrever a história da população negra brasileira sob essa perspectiva é também dotá-la de complexidade e veracidade.
3.Maria Firmina dos Reis
O primeiro livro brasileiro de temática abolicionista saiu das mãos de uma mulher. Úrsula (1859) foi um marco cultural por ser crítico à escravidão, inserindo como figuras centrais e humanizando personagens escravizados.
Considerada a primeira romancista do nosso país, Maria Firmina dos Reis inaugurou a linha da nossa literatura conhecida como afro-brasileira. O gênero literário se destaca pelas obras e narrativas que buscam descrever, reafirmar e resgatar os ideais pela perspectiva interna de raça, questionando as estruturas racistas das quais não nos livramos até hoje.
4.Sueli Carneiro
Quando se fala do feminismo negro, um nome fundamental no Brasil é o da escritora, filósofa e ativista Sueli Carneiro. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), é a fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização negra e feminista independente sediada em São Paulo.
Em sua principal obra, Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil, Carneiro apresenta alguns dos resultados da reducão das desigualdades trazidas pela redução da discriminação racial acontecida nos últimos anos. Ela analisa os reflexos desta mudança no mercado de trabalho, nos indicadores sociais, no aumento da consciência negra, na miscigenação racial, na criação de cotas e na obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas públicas, entre outras conquistas.
5.Luiz Gama
O nome de Luiz Gama não pode ser deixado de lado por quem quer conhecer mais sobre a história negra brasileira. Filho de pai branco e mãe negra e escrava (Luiza Mahin, um dos ícones da luta pela libertação dos escravizados e com importante atuação na Revolta dos Malês, em 1835), foi um dos maiores ativistas em prol da abolição da escravidão no Brasil, além de cronista e poeta.
A história de Gama é impressionante: nascido livre, foi vendido como escravo pelo próprio pai aos 10 anos, para pagar uma dívida de jogo. Levado para São Paulo, aprendeu a ler e escrever sozinho, no cativeiro, e aos 17, conquistou na justiça o direito à liberdade, provando que havia nascido livre.
Tentou ingressar na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, mas devido ao preconceito de alunos e professores, frequentou as aulas como ouvinte e, mais tarde, obteve o título de advogado autodidata, o que foi fundamental em sua atuação pela libertação de centenas de escravos em todo o país.
Como poeta, publicou sua primeira coletânea de poemas, “Primeiras Trovas Burlescas”, em 1859. Já como jornalista, escritor e defensor apaixonado das causas abolicionista e republicana, escreveu para jornais como Diabo Coxo, Cabrião e A Província de São Paulo.
No Radical Paulistano, veículo de comunicação abolicionista do Partido Liberal Radical, Gama trazia denúncias contra os senhores de escravos ou seus representantes, sentenças equivocadas e erros de advogados e juízes.
Um dos poucos intelectuais negros desta época, Luiz Gama dedicou-se à luta por duas causas que, infelizmente, não se concretizaram em seu período de vida, mas pelas quais se tornou símbolo de resistência. Ele morreu em São Paulo em 1882 e conhecer sua vida e obra é fundamental para todos os estudantes e professores do país.
Fontes: Lombada Quadrada, Gente (Globo) e Blog Singularidades