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Os problemas que a Netflix está adorando criar para afastar o público

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Empresa vem trabalhando para adotar medidas de bloqueio de compartilhamento de senhas, porém optou por fazer isso da pior maneira

Por Igor Horbach

A gigante do streaming tem se preparado para a sua pior fase em termos de qualidade de serviços. A Netflix, líder mundial de streaming e com mais de 3.400 filmes e 1.500 séries, anunciou ainda no ano passado, como divulgado no Jornal A cena, que em 2023 adotaria um sistema de bloqueio de compartilhamento de senhas, uma vez que mais de 2 milhões de usuários atualmente realizam essa prática, considerada ilegal pelos termos de uso da plataforma. 

O problema não está nas políticas da empresa em desejar conter esse avanço ‘ilegal’, uma vez que tal ação afeta diretamente o caixa econômico da Netflix que deixa de arrecadar com assinaturas, mas a forma como tem escolhido para fazer isso. É como se toda a equipe de TI da empresa não conseguisse fazer mais do que um acadêmico de primeiro ano de um curso de programação. 

No último dia primeiro a empresa deu maiores detalhes de como faria isso a partir de março nos EUA (ainda sem data para os demais países, incluindo o Brasil). Segundo a empresa, ao logar em sua conta, será solicitado que você conecte ao Wi-Fi na sua localização principal e assista alguma produção do catálogo nos próximos 31 dias. Caso outra pessoa tente fazer o acesso à sua conta sem estar na localização que você listou como principal, ela será bloqueada e receberá um aviso para criar a própria conta. 

Para isso a Netflix deve receber dados importantes e privados dos usuários como endereço IP, ID dos usuários e aparelhos para cruzar com as informações do wifi e listar como um ‘dispositivo confiável’. Será necessário reconectar ao wifi a cada 31 dias. Caso algum dispositivo seja bloqueado, por algum motivo, a liberação dele será realizada somente após contatar a equipe de suporte da empresa, o que é ridículo dados os números estratosféricos de assinantes no mundo, principalmente no país. 

Como se não bastasse tamanha “burrocracia”, a Netflix ainda limitara o uso da plataforma em caso de viagens. Pois é, parece que é o fim das maratonas nos ônibus, carros ou aviões. Pelo menos, de maneira prática. Para conseguir assistir aos filmes e séries durante a viagem o usuário deverá solicitar um código temporário que ficará ativo para uso durante 7 dias corridos. 

É claro que para aqueles que desejarem se livrar de tanta dificuldade para assistir um filme poderão optar por assinar um plano mais caro que permite a liberação de outros dispositivos, porém ainda não se sabe se esse sistema também será aplicado. 

Já prevejo muitas dores de cabeça e estresse para assistir uma série. É ridículo pensar que uma empresa no porte da Netflix tome uma medida através de uma ação tão primordial. Não possuo conhecimento na área de programação, mas tenho certeza que com tantas tecnologias atualmente – a ponto de existir uma plataforma com tantas produções pesadas (tamanho de armazenamento) e ainda funcionar simultaneamente no mundo todo com milhões de acessos ao mesmo tempo – seria impossível não ter uma maneira mais prática, menos problemática e sobretudo, chata, de fazer esse controle de acesso e senhas. 

A questão é, a Netflix não sabe como conter essa avalanche de pessoas compartilhando senhas porque essa é uma ação inevitável e impossível. Uma ou outra tal sistema se tornará obsoleto, pois os usuários buscarão outros meios para logar em contas de outros assinantes. Quem já ouviu o ditado “o mundo é dos espertos” sabe bem o que eu estou falando. 

Com tantas produções sendo feitas a torto e direita, com qualidade de roteiro e elenco abaixo do mercado – como os filmes de Natal e os spin-offs das séries de sucesso – a empresa deveria se preocupar com outras prioridades. 

Não quero dizer que os usuários estão certos em compartilhar suas senhas, uma vez que ao assinar um plano há um termo de consentimento que equivale a um contrato, mas dificultar o acesso a plataforma é uma maneira estúpida de tentar conter isso. A longo prazo, os usuários podem se cansar de tanta burocracia e começar a abandonar a plataforma, principalmente se somarmos com o peso das qualidade questionáveis das produções. 

Nos últimos anos, por exemplo, tenho perdido cada vez mais o interesse em ficar no catálogo do streaming. Com tanta dificuldade assim, principalmente para assistir onde eu quiser…

O sucesso do streaming se deu justamente pela praticidade, pelo acesso ilimitado a filmes e séries, pelo usuário poder abrir uma produção a qualquer hora em qualquer lugar. Será mais fácil – e barato – daqui a pouco voltarmos ao sistema antigo – e mais eficaz – de cadastro em locadoras e DVDs físicos. 

Além do mais, no Brasil a Lei de Acesso à Informação, 12.527/2011, restringe a coleta de dados pessoais dos usuários, principalmente no caso de ID de aparelhos eletrônicos. Como essa legislação será seguida pela Netflix sabendo exatamente a localização de todos os seus usuários? Isso poderá colocar em risco a segurança dos dados dos assinantes ou a plataforma possui um sistema altamente eficaz para impedir ações de hackers?

De qualquer maneira, é triste ver que a pioneira dos streamings, que além de sempre liderar em mercado, número de assinantes e número de produções, tem derrubado a própria qualidade dos serviços com planos com comerciais e burocracias para acessar logins. 

É autor, ator, dramaturgo e produtor brasileiro. Nascido em Tangará da Serra – MT, publicou seu primeiro livro aos 14 anos e o segundo aos 16. Em 2017 se mudou para Curitiba onde iniciou sua carreira de ator, produtor e dramaturgo. Em 2019, produziu e dirigiu a serie Dislike. Em 2020 publicou seu drama de estreia, Cartas para Jack. Em 2021 lançou a série de contos intitulada Projeto Insônia.

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