Teatro
O PROFETA oferece-nos a oportunidade de receber um apurado e prazeroso manual de conhecimento e conduta
por Leonardo Talarico Marins
O espetáculo homônimo da obra de Khalil Gibran, adaptada pela professora Lúcia Helena Galvão e dirigida por Luiz Antônio Rocha, oferece pontos substanciais à caminhada humana e admiração cênica. A Dramaturgia é palatável, muito bem segmentada e com orientação cronológica sempre focada no esclarecimento. A direção merece destaque pela coragem na escolha, no simbolismo presente nas diversas matizes de linguagem presentes no espetáculo e, por derradeiro, no respeito ao tempo da vida Teatral.
Na melhor definição, o ser humano é aquele que esquece. Esquece os valores fundamentais. E a referida encenação, como ninfa, resgata as questões estruturais humanas. E o faz com brilhantismo. A sensível e cirúrgica apresentação estabelece, na melhor lição de Nietzsche, uma linguagem coadunada à natureza. Resta claro que todos os operadores teatrais não se opõem à natureza. Ao contrário, colocam-se em risco sabedores da força inerente da mesma. E bebem dos seus princípios.
O cantor e músico Sami Bordokan realiza seu compromisso como ator focado no processo de apresentação e não de interpretação. Sua “natureza” é o pertencimento cultural pessoal transmitido à plateia. A parceria com o músico William Bordokan flui a ponto de parecerem um. O cenário, figurino, desenho de luz e os adereços são funcionais e bem resolvidos. A projeção amplia a percepção simbólica da plateia. A trilha, repleta de influências clássicas, é o terceiro ator em cena. A direção de movimento segue a posição de que o ator caminha para o seu destino.
Cabe destacar, por derradeiro, o Teatro Fashion Mall pelo acolhimento da obra e a construção de repertório do diretor Luiz Antônio Rocha ao longo dos anos. O PROFETA é um dos seus desafios mais intensos, e Luiz se houve muito bem na aplicação da sua costumeira sensibilidade de percurso cênico. Assim como a obra a “Alma Imoral”, da atriz Clarice Niskier, O PROFETA oferece-nos a oportunidade de receber um apurado e prazeroso manual de conhecimento e conduta. Um espetáculo para ver, rever e se tornar consciente de que tudo opera na força motriz da natureza.
Baseado na obra de Khalil Gibran. Releitura filosófica: Lúcia Helena Galvão. Encenação: Luiz Antônio Rocha.
Assistente de direção e preparação corporal: Hanna Perez. Elenco: Sami Bordokan. Participação especial: Willian Bordokan. Cenário e Figurino: Eduardo Albini. Projeto de luz: Ricardo Fujii.