Literatura
LIVRARIAS FECHANDO E PRESÍDIOS ABRINDO
Por Igor Horbach
Um assunto pouco discutido nos dias de hoje na sociedade é o cenário brasileiro na questão de encarceramento. Atualmente temos um número muito alto de presos se compararmos com o de leitores. E sim, é importante relacionar esses dois assuntos, já que não é segredo para ninguém que a leitura é base fundamental para o desenvolvimento social dos indivíduos, uma vez que a prática está atrelada com a educação e reintrodução do cidadão infrator na comunidade. De acordo com os dados apurados pelo G1 no ano passado, o percentual de presos de 2018 para 2019 subiu 2,6%, o que corresponde a 338 encarcerados para cada 100 mil habitantes.
Antes de chegarmos aos livros, é importante nos situar de que atualmente o Brasil possui 1. 426 regimes para ‘delinquentes’, sendo 41,65% deles, ou seja, 594, são cadeias públicas e 45,6%, ou seja, 651, são penitenciárias privadas, de acordo com os dados do Projeto Prisional do Ministério Público. O que nos leva a concluir que é mais vantajoso para o Estado possuir um número alto de empresas carcerárias e, logo, de pessoas presas para manter e aumentar o capital dessas pessoas jurídicas.
Diante deste cenário, temos outro mais catastrófico, que é a perda de 4% da população leitora. De 2015 para 2019 o número caiu de 56% para 52%. Isto é, 48% da população brasileira não lê nenhum livro há pelo menos 6 meses, o que corresponde a pouco mais de 93 milhões de cidadãos. Os dados mais recentes datados de 2014 registraram 3.095 livrarias ao redor do país e claro, que nos últimos 3 anos vimos esse número diminuir significativamente.
Comparando os dois dados podemos perceber que o número de presos é muito mais crescente do que o de leitores, o que deve ser um alarmante no desenvolvimento social do Brasil. Como poderemos ser o “Brasil acima de todos”, como sonham alguns, se metade da nossa população estiver atrás das grades ao invés de estar sendo influenciadas a fazer o caminho oposto? Ao invés de leiloarmos penitenciárias, porque não criamos planos de incentivo a criação de livrarias e bibliotecas?
O intuito do texto não é defender aqueles que cometeram crimes, mas trazer a ótica de que estamos caminhando na contramão com taxas tão alarmantes. É claro que isso se dá também pelo fato de nos últimos anos o investimento público em educação cair drasticamente.
Se compararmos, ainda com os dados do G1, de que o Acre é o estado com maior número de encarcerados sendo 927 para cada 100 mil habitantes e que a região Norte, em 2014, possuía apenas 4% da quantidade de livrarias no país, o que significa que esse percentual é ainda menor atualmente, chegamos a resposta de que a falta está em um sistema educacional que incentiva a leitura na sociedade, e também que crie programas de leitura nos próprios centros penitenciários. O “bom comportamento” não deve vir apenas de abaixar a cabeça e rezar para Deus com a Universal junto, mas com a possibilidade de desenvolver socialmente os indivíduos e reintroduzi-los na comunidade.
A leitura e a educação caminham juntos com o avanço cognitivo e de vivência social, possibilitando que indivíduos em potencial de encarceramento mudem seu futuro, a longo prazo; e de que os já presos possam cumprir suas penas lutando para mudar a própria realidade. Não precisamos de mais gente sendo acusada de furto por pessoas brancas mesquinhas e indo para o famoso ‘xilindró’. Necessitamos, urgentemente, de que o nosso campo de visão seja contemplado com livros capazes de avançar nossa comunidade brasileira em todos os nichos sociais e econômicos. Assim, quem sabe, deixemos de ser o Brasil da “favela” (como os Gringos nos conhecem) e passamos para o Brasil da ascensão. Paremos de acreditar em um país que está acima de todos se na verdade o mesmo morre de fome, sem teto e o restante atrás das barras de ferro e abrimos os olhos de que há muito trabalho pela frente. Não é de Deus acima de tudo e sim de Liberdade de Pensamento que clamamos.