Opinião
A Natureza e o Teatro
por Leonardo Talarico Marins
Enquanto estou em mar aberto, cruzando oceanos, tratarei de assuntos ligados ao nosso ofício. No final do mês, voltaremos com as nossas críticas e resenhas sobre os espetáculos no Rio.
Pode-se sair do Rio de Janeiro de várias formas. Para mim, a mais coadunada com os ensinamentos do Nietzsche é pelo mar. Alí a natureza não aceita qualquer linguagem construída em desacordo pelo homem. E assim como o mar, assim como o Teatro. De uma forma ou de outra, sobretudo, no mundo contemporâneo, o Teatro é uma força da natureza, e, como tal, precisa ser respeitada.
O pós-modernismo colocou em suspenso todas as definições dos mais diversos saberes. Entretanto, não há linguagem destituída da natureza que pare em pé. E assim também opera o Teatro. Você pode estipular novos conceitos, definições, reinventar a roda, mas o caráter estrutural do Teatro não aceita desaforo. É preciso respeitar sua força intrínseca advinda da natureza. Vamos trazer exemplos: estar no palco não faz Teatro, cursar faculdade não faz Teatro, escrever tese de mestrado não faz Teatro e atuar mal não faz Teatro. As artes cênicas demandam um mínimo princípiológico para entregar respaldo. Senão vejamos: o respeito litúrgico devido no mar deve ser também entregue no Palco, lugar sagrado.
O palco exige morte na coxia, sob pena do espetáculo ser construído com os tijolos da mentira. Teatro só se faz com verdade e esclarecimento, ou seja, plena necessidade de informar de forma horizontal à plateia de forma realista e simbólica; a medida do artista é a medida do humano. Portanto, as técnicas teatrais são subsidiárias à formação cultural-histórica-humana. Você entra personagem, mas o seu papel, inconscientemente, sugará todos os elementos construtivos angariados por você ao longo da vida; o Teatro significa estar a serviço e atuar como ninfa relembrando ao ser humano seus elementos constitutivos esquecidos.
O Teatro não é espaço egóico, mas coletivo; o Teatro exige desprendimento realista para sacar simbologia. E, por fim, o Teatro não suporta a presença da quarta parede ou quaisquer elementos que afastem a plateia do jogo Teatral, haja vista que ela é condição inerente à realização. Portanto, o homem pode tecer e inventar comentários para justificar sua mediocridade e aljjar a força cênica. Entretanto, assim como o mar, toda linguagem Teatral deve estar alinhada com a força da sua natureza.