Opinião
A Esperança na Caixa de Chicletes Ping-Pong
por Leonardo Talarico Marins
Clarice Niskier, independentemente da obra encenada, sempre deve ser assistida. Clarice possui uma estrutura artística capaz de oferecer orientação cênica a todos. É uma “ninfa” que relembra ao ser humano quem ele é, haja vista ser o homem aquele que esquece. Esquece o quê? Seus movimentos estruturais e biográficos. Ademais, o respeito litúrgico sobre o Palco norteia todas as escolhas e montagens de Clarice com Amir Haddad.
O espetáculo “A Esperança na Caixa de Chicletes Ping-Pong” tem por fulcro a defesa contumaz do “ser brasileiro”, sobretudo na poética popular e no comportamento afetivo-festivo nacional. Se na Alma Imoral, Clarice responde, no seu tempo, para Dona Léia, sobre poder ser uma Judia-Budista, nesta oportunidade Clarice, com amor e empatia, tenta demonstrar ao seu filho o orgulho “lógico” de viver no Brasil. E nessa empreitada surge o melhor dessa grande atriz. Clarice Niskier reúne em sua alma as qualidades que distinguem e elevam o povo brasileiro.
O espetáculo é uma ode às virtudes pátrias, aquilo que nos celebra. A encenação da referida obra é a fiel carnavalização do Teatro, na melhor lição de Amir Haddad. Como se assistíssemos uma evolução bem sucedida de uma escola de samba cujo tema é a matriz afetiva, artística e poética do povo brasileiro. Clarice, a despeito de estar norteada, com êxito, na obra de Zeca Baleiro, perpassa o cancioneiro popular (e outras referências) e reforça, sob nova perspectiva, os dizeres comparativos de Tom Jobim sobre morar nos Estados Unidos e no Brasil. As declamações, canções, movimentos bailados, letras, poesias, referências antropológicas, colocam o brasileiro diante de si. Coloca o brasileiro diante do seu êxito construído em verbos e movimentos.
Atribuir a Clarice um apego ao movimento tropicalista é deveras reducionista. A peça apresentada não consegue (e nem deixa) ser catalogada academicamente. Conforme já o dissemos, Clarice apresenta o melhor do nosso quintal. Portanto, a visão acadêmica não está disponível. O Figurino exalta alegria e fé poética. A luz auxilia o perpassar cênico. A trilha é o segundo personagem em cena e não há mínimo lixo cênico no espetáculo. Tudo posto está a serviço da obra. O trabalho artístico de Clarice Niskier e Amir Haddad está absolutamente voltado ao esclarecimento afetivo na defesa dos valores artísticos e sociais desse país tão sofrido. Um espetáculo para ser visto, revisto e catalogado como uma obra popular que prima pela defesa do território poético nacional diante de toda sua complexidade e multiplicidade.
Em janeiro, no Teatro Fashion Mall, no Rio de Janeiro em São Conrado.
Ficha Técnica; Supervisão de direção: @amirhaddadreal – Direção musical: @zbaleiro – Direção de produção: @ze_rendeiroo – Divulgação: @jspontes_comunicacao – Cenário: @joses.dias2020 – Luz: @desimoniaurelio – Figirino: @kikafig – Voz: @rosevoz – Corpo: @marykunha_corpoarte – Arte: @studiocomunicacao – Técnico de som e cenotécnico: @chenrique.pereira – Técnico de luz: Paulinho Roberto Moreira – Assistente de produção: @glauciasundin e Assistente de palco Lincon