Especial
Adeus a Simon Magalhães, multiartista premiado e voz indispensável da cena preta paranaense
de “Pixaim”, criador de “Por que não tem paquita preta?” e presença marcante na música e no teatro, Simon morreu na segunda‑feira, 7 de julho de 2025, deixando um legado de força, irreverência e representatividade

Foto: Cibelle Gaidus
Multiartista que se autodefinia “preto, periférico, latino‑americano e de voz potente”, Simon parte poucos dias depois de comemorar mais um aniversário, levando consigo décadas de criação que desafiaram padrões estéticos e raciais na arte paranaense.
Formado em Artes Cênicas, Simon ingressou nos palcos ainda na década de 1990 e rapidamente se tornou referência por reunir presença cênica vigorosa e discurso afiado. Em 2009, arrebatou o Troféu Gralha Azul de Melhor Atriz por sua atuação no espetáculo “Pixaim”, montagem que denunciava o racismo estrutural a partir da estética do cabelo crespo. No cinema, brilhou ao lado de Lázaro Ramos em “Cafundó” (2005), dirigido por Paulo Betti e Clóvis Bueno.
Em 2014, Simon ingressou no coletivo Selvática Ações Artísticas e estreou o musical autoral “Por que não tem paquita preta?”—um show‑manifesto que misturava pop, samba‑funk e poesia para questionar a ausência de meninas negras no imaginário infantil televisivo. Dois anos depois, emprestou sua inteligência cênica à peça “O Homem Desconfortável”, título que marcou a retomada do Teatro de Comédia do Paraná (TCP) em 2016.
Entre seus trabalhos mais recentes está “Adoráveis Transgressões”, montagem que revisita histórias de corpos dissidentes e reafirma a arte como espaço de transformação social.
Em 2023, a Câmara Municipal de Curitiba incluiu Simon entre as 18 personalidades homenageadas na sessão alusiva ao Mês da Consciência Negra, reconhecendo oficialmente sua contribuição à cultura afro‑paranaense.
Mais do que prêmios, Simon colecionava afeto: seu nome ecoava em saraus, blocos de carnaval, oficinas de teatro e projetos de formação de público na periferia. Era comum vê‑lo dividir o microfone com jovens artistas, incentivando-os a “fazer barulho” e ocupar todos os espaços.
Legado em cinco atos
-
Representatividade negra – Colocou corpos, vozes e narrativas pretas no centro do palco, confrontando estereótipos.
-
Arte híbrida – Transitava com naturalidade entre a música, o teatro físico, a performance e a poesia falada.
-
Formação de público – Com sua arte, ajudou a formar públicos diversos e aproximar temas de representatividade de comunidades historicamente marginalizadas.
-
Premiação histórica – Primeiro artista negro a conquistar o Gralha Azul na categoria Melhor Atriz pelo espetáculo “Pixaim”.
-
Inspiração para novas gerações – Seu espetáculo “Por que não tem paquita preta?” virou referência para pessoas que discutem representatividade negra nos espaços.
“Que Simon leve consigo os aplausos de todos os palcos por onde passou.”
O Jornal A Cena presta homenagem e se une ao coro de vozes que celebram a vida de uma artista que transformou cada palco em arena de potência. Que a reverberação de sua arte continue abrindo caminhos para novas paquitas pretas, novas histórias e novos espetáculos que insistam em fazer do mundo um lugar mais plural.