Teatro
Relações teatrais e sua construção
por Leonardo Talarico Marins
Duas perguntas apresentam-se fulcrais na Construção Teatral: o que dizer e com quem dizer? Mais do que qualquer outra atividade profissional, o Teatro impõe relações de convivência muito intensas e específicas. A afetividade, no sentido amplo, decorre, sobretudo, da exposição direta dos operadores teatrais.
Atuar no palco cênico, por exemplo, exige uma relação de extrema confiança com o seu diretor. Comporta à direção identificar todas as necessidades técnicas e cognitivas do ator e atriz, sempre imersos em uma sensibilidade latente de responsabilidade cênica. Trata-se de uma verdadeira gestão sentimental em múltiplos aspectos. Cada artista apresenta uma necessidade específica de tratamento, e comporta à equipe técnica auxiliar na caminhada até a estreia (e temporada). Obviamente, não me refiro ao estrelismo, mas aos elementos de insegurança inerentes à profissão.
Além dessa circunstância, importante esteja toda a equipe coadunada no intuito de realizar o mesmo espetáculo, sem deixar interesses egóicos tomarem frente. Todos a serviço da obra e, por consequente, da sua plateia. Na coxia acontecem coisas extraordinárias, e como espectro da própria sociedade, há movimentos mesquinhos, deploráveis, egoístas, interesseiros etc. Em verdade, quase sempre estão por lá presentes muitos dos listados pecados capitais. Mas também existem virtudes difíceis de se apresentarem tão genuinamente noutros lugares. Na coxia há poesia, solidariedade, companheirismo, parceria, emoção e todas as demais virtudes humanas.
E, por fim e extraordinário, por lá, na coxia, invariavelmente, nasce o amor entre duas pessoas. Um amor diferente de tudo já experimentado. Um amor de duas pessoas de mãos dadas na beira do abismo, descobertas, frágeis e humanas. Um amor de cortina fechada.