Leia na íntegra o discurso que Walter Salles pretendia ler no Oscar

Vencedor do Oscar 2025 de melhor filme internacional por Ainda Estou Aqui, Walter Salles não teve tempo de fazer o discurso inteiro que gostaria — e acabou falando só metade dele no palco do Dolby Theater na noite no último domingo, 02, já que a produção do evento acelerou o brasileiro. Na coletiva de imprensa, realizada na segunda-feira, o cineasta distribuiu para a imprensa o discurso que pretendia falar na premiação

“Obrigado, em nome do Cinema Brasileiro. Agradeço à Academia por reconhecer a história de uma mulher que, diante de uma tragédia causada por uma ditadura militar, optou por resistir para proteger sua família. Em um tempo em que tais regimes estão se tornando cada vez menos abstratos, dedico esse prêmio a Eunice Paiva e a todas as mães que, diante de tamanha adversidade, têm a coragem de resistir. Que nos ensinam a lutar sem perder a capacidade de sorrir, mesmo quando elas se sentem frágeis. Este prêmio também pertence a duas mulheres extraordinárias, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Elas não apenas elevaram nosso filme, mas representam o fato de que a arte resistiu no Brasil. Governos autoritários surgem e desaparecem no esgoto da história, enquanto livros, canções e filmes ficam conosco… Obrigado a todos, em nome do cinema brasileiro e latino-americano! Viva a democracia, ditadura nunca mais!”

Na premiação, Salles até pegou seus óculos e um papel para ler, mas falou de cabeça rapidamente e conseguiu dedicar o prêmio para Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro: “Em nome do cinema brasileiro, é uma honra receber esse prêmio. Eu dedico esse prêmio a uma mulher que, depois de uma perda durante um regime autoritário, decidiu não se curvar”.

Ainda estou Aqui é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos de Eunice e Rubens Paiva , que foi dirigindo o próprio carro para o depoimento no Doi-codi no Rio de Janeiro e nunca mais voltou. A certidão de óbito de Rubens só foi emitida após 25 anos de sua morte, em 1996.