Grupo Baquetá acaba de trazer na bagagem cinco prêmios do Festival de Teatro da Amazônia

Por Vanessa R Ricardo

O Grupo Baquetá, produtora cultural idealizada por Kamylla dos Santos, que há 14 anos cria espetáculos com base nos saberes africanos, afro-brasileiros e dos povos originários do Brasil. Acabou de voltar da 17ª edição do Fetam (Festival de Teatro da Amazônia), com cinco prêmios na bagagem. O grupo curitibano, estava concorrendo a sete prêmios, na categoria Teatro para Infâncias, com o musical Itan e Tal. Levando o de melhor espetáculo, o de direção, para Marcel Malê, melhor atriz para Kamylla dos Santos, melhor iluminação para Natham Gabriel e sonoplastia para Nelson Sebastião.

“Os prêmios comprovam a importância desse espetáculo e nos traz também uma reflexão, pois foi o primeiro festival que selecionou o Itan e Tal para estar na grade de programação. E a gente se perguntava o que estava acontecendo, o que estava faltando para o nosso trabalho, pois na circulação do espetáculo recebemos muitos retornos positivos da plateia, sobretudo de pessoas negras e afro-indígenas e das crianças, que se viram ali representadas. Foram nove meses de dedicação para a criação do Itan e Tal, com um trabalho minucioso onde a gente se dedicou nos mínimos detalhes para mostrar beleza e potência das nossas narrativas afro-indígenas”, comentou Kamylla.

O espetáculo que é a mais nova montagem do grupo, conta a história da Nati, menina negra de nove anos, que junto com seu pai, cria um jogo chamado “Mundo Invertido das Palavras”, e acaba descobrindo que seu nome ao contrário é itaN, essa descoberta faz com que ela entre em uma jornada em busca de suas origens afro-indígenas.

“As pessoas têm se reconhecido nesse trabalho, Itan e Tal é um espetáculo muito importante para o estado do Paraná, e a gente sente uma falta de reconhecimento da trajetória do grupo que já tem 14 anos de história se dedicando as essas narrativas. Esse espetáculo surgiu em um processo de edital, e através disso podemos alcançar 22 mil crianças e a gente não teve um reconhecimento desse trabalho. Então quando a gente vai para a região norte, pra Amazônia, e vê que sim, que é importante, e a gente volta mais fortalecido com o nosso compromisso. E além de voltarmos com a bagagem cheia de prêmios, voltamos cheios de experiências” relembrou a criadora do grupo.

Até chegar a Manaus, o elenco passou por diversos desafios, chegando a perder parte do cenário, não recuperando até agora. “Uma das cargas do cenário estava a nossa Jaguaretê, que é uma personagem da peça, então tivemos toda uma mobilização do próprio festival e de artistas de Manaus, Juca de Souza, confeccionou uma outra onça para que pudéssemos utilizar na peça. A comunidade indígena também se mobilizou, e recebemos uma máscara do povo Tikuna. Transformamos todos esses desafios em aprendizado e observando a importância dos encontros, do fortalecimento e da coletividade, e é o que o teatro nos traz como um grande ensinamento”, lembrou Kamylla.

Para o grupo, algo que ficou muito evidente foi o intercambio das tradições afro-indígenas, com a região sul e norte do país, e como diáspora negra é forte. “Itan e Tal traz uma questão regional, a gente fala de pessoas, de lugares aqui do Paraná importantes para a população negra e percebemos quanto reverberou para a população de lá. Com isso vemos a amplitude desse trabalho e a importância.  Voltamos com a sensação de querer voltar para o norte, de ficar por lá. É muito diferente a gente estar lá, com muitas pessoas parecidas com a gente. Um festival cheio de pessoas afro-indígenas, nos cargos de coordenação, nas ruas. E a gente sabe que aqui do Paraná também tem uma população grande, Curitiba é a capital mais negra do sul, mas a gente tem um silenciamento um apagamento, a invisibilidade dessas pessoas em locais de coordenação e de poder e na própria arte. E voltamos com essa sensação de resistência de resistir, afirmando sempre essas narrativas”, encerrou a  atriz.