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Opinião

Espetáculo “Só” a singela montagem edifica o brilho da escassez Teatral

Publicado

em

por Leonardo Talarico

Assisti ao espetáculo “Só”. Dois atores executam saltos dramatúrgicos não cronológicos em metalinguagem sobre si e outros no campo da “afetividade”. Perpassam cabedal de sentimentos instalados nas biografias humanas. Trata-se de Teatro de Ator. Ambos realizam suas atividades cênicas com propriedade (física e verbal). Moisés caminha e gesticula estruturado na antropologia teatral, com destaque à vetorização antes mesmo do terceiro sinal, e mantém vivo seu texto ausente memória do futuro, de forma horizontalizada e esclarecedora.

Igor também realiza bom trabalho. Opera com propriedade nas energias mineral e vegetal e oferece generosidade à plateia. A direção estabelece dois atores na mesma obra (relevante fator de unidade), mesmo diante da desfragmentação verbal. O “jogo” insere o público nos elementos caros do Teatro. Sobretudo, a fé no ator.

 

A singela montagem edifica o brilho da escassez Teatral. De todos os labores cênicos, a luz faz-se mais presente com o intuito de auxiliar na temperatura das inúmeras alternâncias. Os adereços cenográficos são utilitários, essencialistas e deixam espaço à complementação dos atores. O Figurino segue igual propósito. Com a diferença de ser mais impositivo por apresentar realismo (mesmo diante do simbólico complementar das cores) em contraposição a linguagem do espetáculo que perambula entre o real, imaginário, ambíguo, simbólico, físico, absurdo, fantástico etc.

A direção de movimento não age por entretenimento, mas no melhor estilo do “ator caminha para o seu destino”. Os movimentos atendem as exigências da obra e são bem assertivos. Até mesmo os gestos simétricos, em oposição aos ensinamentos da antropologia teatral, não geram mínimo dissabor. A obra retém os espectadores. A realização “dramática” – com momentos de distensão cômica – oferece ao público várias matizes. A trilha sonora bem pontua a passagem do espetáculo. Necessário, por fim, enaltecer direção e atores pela realização de um teatro cravado na essência grega, na contação de história e na apresentação horizontal. Teatro “inocente” na sua bela definição. Todos expostos, mortos na coxia, fincados no palco sem subterfúgios e proteções. Parabéns.

 

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