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Cinema

Os Primeiros Soldados é uma enxurrada de dor e sofrimento daqueles que não são lembrados como devem

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Por Igor Horbach

O filme Os Primeiros Soldados foi exibido no Olhar de Cinema de Curitiba neste domingo e levou o Cine Passeio inteiro, com a exibição nas duas salas, as lágrimas. Vítimas das primeiras infecções da AIDS no Brasil, o filme traz a luta de 2 homossexuais e 1 travesti para descobrir o que está acontecendo com seus corpos.

O roteiro é incrível, doloroso e necessário. As três histórias parecem até um pouco confusas no começo, mas se misturam em uma dança síncrona logo em seguida, que nos leva para o ápice do drama. É muito bem escrito, com diálogos que batem de frente contra o que acreditamos e sentimos. 

A fotografia vai se mostrando eficaz e conversa muito bem com a proposta estética do longa. É sensacional a forma como se intercala com imagens de uma câmera da época (1980) transportando o espectador para dentro da realidade da década em que tudo começou. 

A arte é simples, mas mais do que suficiente para o filme. É com elementos normais e convencionais que a direção de arte consegue “engrossar o caldo”, por assim dizer, do longa.

O elenco se entrega e mergulha na dor daquelas almas. Seus corpos são expostos ao extremo para que a história extrapola a realidade ficcional da tela e atinja o público em cheio. O todo tempo somos lembrados do final trágico previsto do filme e através disso que as dores deles são passadas da tela para a vida. 

A direção é exuberante e tão bem construída e executada que o resultado é a catarse sendo arrancada do público no terceiro ato inteiro. É impossível desgrudar os olhos da tela, mesmo com tamanha tristeza por aquelas histórias que ali estão.

Aprofundando um pouco no debate do filme, a luta inicial contra a AIDS foi uma batalha silenciosa e que é vista até hoje com maus olhos. Centenas de pessoas morreram nessa época e olhamos com piedade para elas, mas e as vivas até hoje? Repetimos e excluímos no limbo do departamento LGBTQIA+ e da sociedade? Porque é mais fácil alcançarmos a catarse do que o sentimento real? 

A arte tem esse poder, de nos tirar o choro, mas seria ele sincero ou repleto de agonia traumáticas internas? Quando nos deparamos com a realidade fora de cena, a repetimos, a transformamos em abominação.

As primeiras pessoas que se contaminaram estavam munidas apenas de esperança. Da cura, da salvação e do amor. Dos outros que o compreendessem, do companheiro ou companheira que não sentisse nojo, da família que não os abandonassem. Aos poucos a esperança de um futuro foi se transformando na esperança da morte rápida e menos sofrida do que o fim da vida.

Os Primeiros Soldados não é apenas um filme necessário. É uma retratação histórica de respeito e efetivo exemplo de como uma sociedade sem memória de seu passado está condenada ao fracasso. É transformador e emergente. É de debate para micro e macro comunidade. É de reflexão interna de concepção de vida e de dores. É um filme para além da compreensão humana que não se permite mergulhar nos anseios do outro que impactam indiretamente a si mesmo. 

É autor, ator, dramaturgo e produtor brasileiro. Nascido em Tangará da Serra – MT, publicou seu primeiro livro aos 14 anos e o segundo aos 16. Em 2017 se mudou para Curitiba onde iniciou sua carreira de ator, produtor e dramaturgo. Em 2019, produziu e dirigiu a serie Dislike. Em 2020 publicou seu drama de estreia, Cartas para Jack. Em 2021 lançou a série de contos intitulada Projeto Insônia.

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