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Teatro

Neva – Espetáculo para ver, rever e acreditar na sobrevivência das Artes Cênicas

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Por Leonardo Talarico

No filme “Almas à Venda”, Paul Giamatti extrai parte substancial da alma por não suportar angústias cotidianas. Quando retorna aos ensaios da peça de Tchekhov, o diretor enlouquece pela incapacidade do ator não mais acessar profundas camadas dramáticas.

Após perceber que “a medida do artista é a medida do humano”, Paul tenta reaver sua alma. Ao desesperar-se com o extravio, é convencido a escolher outra do catálogo. Ele opta pela alma de uma poeta russa. Portanto, temos Paul Giamatti interpretando Tchekhov como Paul Giamatti, “sem alma” e com a alma de uma poeta russa. Está posto o espetáculo “Neva”.

Ademais, o texto de Guillermo Calderón é primoroso. A sinopse do espetáculo articula vida-arte, restando evidente o entroncamento de ambos. A encenação deleita-nos ao apresentar os três atores “brincando” (to play) em ser ou não ser. A direção de Paulo Moraes é artesanal e novamente utiliza recursos cênicos simbólicos, dinâmica narrativa, experimentos de linguagem, ocupação equilibrada de espaço e sentimentos dramáticos intensos aliados a distensões cômicas.

Os elementos cênicos são cuidadosamente elaborados, oferecendo dualidade real-simbólica  e entrega ao trio um espetáculo de ator e uma comunhão de companhia teatral. Trata-se do DNA da Armazém Cia de Teatro.

O figurino é funcional e o desenho de luz atende a dramaturgia, vai ao encontro do cenário-adereçado e ressalta, com beleza, a perspectiva dramática da obra. É um espetáculo de ator. E se todos realizam bem seu mister, faz-se necessário destacar Patrícia Selonk, a maior atriz de sua geração. São incontáveis as camadas oferecidas por Patrícia. Ator não é aquele que fala, mas o que ele pensa. E Selonk faz com primazia. É um deleite sua atuação. Seria capaz de escutar suas intervenções e solilóquios por dias. Por derradeiro, a cena final deve ser vista e não aqui contada. A maquete e a evolução cênica final do “Teatro de Arte de Moscou” é deslumbrante.

Espetáculo para ver, rever e acreditar na sobrevivência das Artes Cênicas.

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