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Opinião

Do(s) aprendizado(s) do legado das que vieram antes de nós

Recuperando a trajetória de Ruth e Léa o espetáculo se constrói de forma bela, rememorando os idos do Teatro Negro Experimental (TNE), comandado por Abdias do Nascimento.

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em

gabriel m. barros

​Entrando na última semana em cartaz, no Sesc Pompéia, Ruth e Léa, com dramaturgia de Dione Carlos e idealização direção artística e de produção de Luiz Antonio Pilar, é uma excelente pedida para conhecer melhor o teatro negro produzido historicamente no país, prestando reverência a duas lendas cênicas: Ruth de Souza e Léa Garcia. 

​A premissa da peça é conhecida: no espaço de gravações de um filme sobre as atrizes, duas jovens, também atrizes, Zezé e Elisa, aguardam a chegada da diretora e decidem ensaiar algumas cenas. No palco Bárbara Reis e Ivy Souza dão vida às duas atrizes que aguardam, nesse Beckett abrasileirado para o feminino negro. Mas não estão só em cena, acompanhadas das interpretes musicais (ora Glaucia Negreiros, ora AnetteCamargo, exímias pianistas) também estão no palco, que vai se convertendo num estúdio de filmagens, contando com a participação dos operadores de câmera FelipheAffonso e Matheus D’Amaral. 

​Recuperando a trajetória de Ruth e Léa o espetáculo se constrói de forma bela, rememorando os idos do Teatro Negro Experimental (TNE), comandado por Abdias do Nascimento. Nesse aspecto, a peça recupera outros atores negros e a importância deles na consolidação do teatro nacional. Perpassa pela crítica teatral branca e enviesada e do quanto por vezes são críticas infundadas inclusive por desconhecerem do que estão escrevendo. 

​O grande feito da peça, que por si só seria excelente pelo resgate de duas atrizes fundamentais, se dá no entrosamento em palco de Bárbara Reis e Ivy Souza, que dão uma vivacidade e espontaneidade para as cenas extremamente agradável, o que facilita imensamente quando se solicita a participação da plateia (no dia que assisti, Amanda foi a escolhida para lhes auxiliar em uma cena). O jogo cênico que as duas atrizes proporcionam evidencia o trabalho maduro, seguro e rápido quando se pede improvisos, o que dá uma dinamicidade para o que se está vendo. 

​Com figurinos ora singelos, ora estupendos feito por Rute Alves, com cenografia interessantíssima de Lorena Lima e uma iluminação impecável de Rodrigo Palmieri e do próprio diretor, a peça se estrutura rápida, envolvente, e que resgatam e mantém a memória de Ruth e Léa atualizadas tanto para aqueles que conheciam os trabalhos, quanto para novos públicos que se achegam. 

Recordo que a primeira fala da peça é da personagem que está aprendendo a se amar. Ideia que volta algumas vezes na encenação e que a mim, particularmente, foi bem certeiro. O que fazemos é ao mesmo tempo um exercício para nos amarmos. Teatro também é esse espaço. Por esses vários pontos, inclusive para aprendermos a nos amar mais, a peça por inteira é um acerto que vale ser assistida e apreciada.  

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