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Ballet Anna Kariênina faz um bom recorte da volumosa obra de Leon Tolstói

A capacidade dos bailarinos é indiscutível e todos estão a serviço da plateia e do espetáculo. As cenas são muito bem concatenadas e bem trilham o rumo trágico da história

Publicado

em

por Leonardo Talarico Marins

Assisti ao ballet Anna Kariênina do Eifman Ballet Saínt-Petersburg. Os espetáculos de ballet, assim como a ópera, restaram cooptadas pela classe dominante por meio de codificações “próprias” e verticalizadas. O esclarecimento da história posta em cena não é mais o objetivo direto. Restar admirado por habilidades próprias e signos elitistas é o novo propósito. Há exceções. E desde “two-voice”, a companhia voltada ao Teatro Psicológico de Balé logra êxito na representação das afetividades. Nesse diapasão, Anna Kariênina faz bom “recorte” da volumosa obra de Leon Tolstói e é apresentada mediante direção de movimento e coreografias horizontalizadas. O cerne é a compreensão real e simbólica de um dos maiores romances mundiais.

A direção detém mérito no percurso expositivo do arco dramático e interessante valor estético-criativo. Também se observa eficaz distribuição e equilibro técnico no palco. O desenho de luz opera em favor das intensidades dramáticas e corrobora com as paisagens e cenários inventivos. A trilha sonora de muito bom gosto favorece a pulsação e reflexão do drama tolstoiano.

A capacidade dos bailarinos é indiscutível e todos estão a serviço da plateia e do espetáculo. As cenas são muito bem concatenadas e bem trilham o rumo trágico da história. Delicadezas da obra literária estão presentes e o ballet volta a ser oferecido ausente mínima afetação. Figurino pertinente e de extrema qualidade. Operações corretas. Ademais, a cena derradeira é um primor. Outra ponderação importante é perceber a utilização correta na volumetria distributiva dos bailarinos. Os mesmos não são utilizados por mera ocupação de espaço.

Ao contrário, a solidão está presente, os solilóquios estão presentes e os percalços dramáticos também estão. Excelente memória narrativa de Leon Tolstói. Sobretudo, por substituir errôneo drama por real tragédia e compreender o suicídio como recurso diante impossibilidade da protagonista exercer todos os amores naturais diante limitação da sociedade reacionaria.

Brilhante!

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