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Teatro

A perspectiva deprimente de Pessoas Brutas

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Por Igor Horbach 

Ontem o Zé Maria foi palco da estreia curitibana de Pessoas Brutas. O grupo Os Satyros de São Paulo finalizou a Trilogia das Pessoas iniciada em 2014 de maneira excepcional e inebriante. De modo geral, Pessoas Brutas é uma dramaturgia contemporânea que discute atualidades necessárias para reflexão do jeito que o teatro melhor sabe fazer: tecendo histórias.

O elenco grande de 13 personagens se entrega logo no prólogo do espetáculo quando ocupam os dois espaços de uma matéria energética que só eles percebem: o do ator e do personagem. Ao decorrer da apresentação, os mesmos vão se entregando aquele estranho emaranhado de crises humanas em que vivemos duramente no dia a dia. 

Não há fuga da realidade nesta peça, há apenas a super valorização dela. A agonia da plateia diante da vitrine do externo é tão ensurdecedora que passa da voz, risadas e palavras para o alto nível de complexidade expressiva de alguém: o silêncio. A medida que tudo vai se formando a agonia vai sendo silenciada. As risadas se transformam em expressão corporal e não melódica como o riso.

O figurino é exagerado e esteriotipado do jeito necessário. Até mesmo os adereços são hipinotizantes e trazem de forma abrupta o tema em questão. O pouco cenário contemporâneo reafirma uma terceira vez o que já está diante de nós. Seria esse cenário o próprio reflexo preciso do Sistema do Cubo? Esse que nos obriga a viver em um metro cúbico cada um, como um pássaro na gaiola. Ou apenas uma estética diferente? 

A direção de Pessoas Brutas é forte, veemente e carregando nome da peça em sua descrição mais potente: bruta. Não tem essa de “o público não vai entender” ou “isso pode cair em maus olhos”. É construida em cima do incômodo do cômodo, da compreensão montada na dúvida e da possibilidade de recuo desses olhos frios que caçam a arte. 

A iluminação e a trilha sonora complementam e nos inserem ao ambiente virtuoso e real da peça. É como se reafirmassem o tempo todo: não esqueça o tema aqui, nem o porque você está aqui. Não se esqueça. 

Com seus 100 minutos de duração, Pessoas Brutas encerra o ciclo da companhia de um jeito colossal. Espero acompanhar mais dessa realidade estampada e eternizada por Os Satyros.

Crédito 📷 foto: Pessoas Brutas, ensaio para divulgação. Foto por Andre Stefano @fotosdeteatro

É autor, ator, dramaturgo e produtor brasileiro. Nascido em Tangará da Serra – MT, publicou seu primeiro livro aos 14 anos e o segundo aos 16. Em 2017 se mudou para Curitiba onde iniciou sua carreira de ator, produtor e dramaturgo. Em 2019, produziu e dirigiu a serie Dislike. Em 2020 publicou seu drama de estreia, Cartas para Jack. Em 2021 lançou a série de contos intitulada Projeto Insônia.

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