Cinema
Casa Vazia explora o contexto gaúcho que os sulistas tanto temem de ser mostrado
Por Igor Horbach
Se tratando de um dos estados mais patriotas do país e de um povo que idolatra suas culturas de maneira exagerada e superior, o Rio Grande do Sul se viu na saia justa com a produção Casa Vazia.
O filme com exibição no Olhar de Cinema expõe a dura realidade dos moradores do interior do estado que precisam conflitar entre si, entre o certo e o errado, o justo e o injusto para garantir o mínimo de sobrevivência.
Raúl é um morador isolado da região dos Pampas que a noite se junta a um grupo de ladrões para matar o gado dos fazendeiros e vender ilegalmente. Um dia, ao retornar de sua caçada, encontra sua casa vazia, sem ninguém. Esposa e filhos o deixaram para trás e foram para nunca mais voltar para aquela situação. Raul se vê no olho do furacão quando um grupo de vigilantes começa a percorrer seus rastros para fazer justiça com a própria mão. O roteiro é brilhante em seu debate social. Viaja por aquilo que é ignorado pela própria população sulista. Nos transporta para aquela vivência sofrida em uma angustiante tentativa de sobrevivência. Coloca em cheque a experiência de vida que deve ser prevalecida, entre o justo e o tudo ou nada.
A fotografia é perspicaz em montar em seu conjunto artístico toda a região natural do Sul, exibindo que não é só de belas paisagens que se vive o estado. É a exibição necessária para romper a bolha da civilização. A trilha sonora se prova condizente com a estética do filme, assim como a arte pensada.
A direção de elenco talvez tenha sido deixada mais de lado, dado a um roteiro tão intenso e complexo, mas profundo e com capacidades ilimitadas que pouco foram exploradas. Tanto o protagonista quanto os coadjuvantes não demonstram utilizar de todas as suas habilidades para interpretar tais vivências. Compreendendo um roteiro inteligente, potencializado, faltou recursos de direção artística para tornar a experiência cinematográfica mais marcante e poderosa.
De maneira geral, Casa Vazia é agradável de se ver e angustiando de se refletir. Está na linha tênue do bom e do fraco. Inexiste potência cênica motora para transformar o olhar do público leigo, mesmo com um roteiro tão forte.