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Literatura

Os 25 Melhores Livros Brasileiros do Século 21, Segundo a Folha de São Paulo

Ranking histórico revela nova configuração do cânone literário nacional e destaca protagonismo de autores negros e mulheres

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Ranking histórico revela nova configuração do cânone literário nacional e destaca protagonismo de autores negros e mulheres

A literatura brasileira do século 21 acaba de ganhar um novo marco. Em maio de 2025, a Folha de S.Paulo divulgou uma lista com os 25 melhores livros nacionais publicados desde 2001, resultado de uma consulta inédita a 100 especialistas — entre críticos, escritores, acadêmicos, curadores e jornalistas literários.

Mais do que um simples ranking, a seleção revela uma transformação profunda no panorama literário brasileiro. Pela primeira vez, autores e autoras negros ocupam o centro do cânone, ao lado de nomes consagrados e novas vozes da literatura contemporânea.

No topo, a força de uma narrativa negra

Liderando a lista está Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, publicado em 2006. Com quase mil páginas, a obra narra a saga de Kehinde, uma mulher africana escravizada que cruza o Atlântico em busca do filho perdido. Mais do que um romance histórico, o livro é um manifesto sobre memória, resistência e identidade negra — e se torna, agora, referência central da nova literatura brasileira.

“O reconhecimento dessa obra simboliza um acerto de contas com a história literária nacional”, comentou um dos críticos consultados pela Folha.

Entre setembro e dezembro de 2024, a equipe do jornal convidou 100 especialistas para indicar os dez livros brasileiros mais importantes publicados a partir de 2001. Cada participante usou seus próprios critérios — da inovação estilística ao impacto social.

O único requisito era que as obras fossem de autores brasileiros e lançadas por editoras nacionais. O resultado final é uma amostra rica e diversa da produção literária dos últimos 24 anos.

Confira a lista completa

 — Um Defeito de Cor, Ana Maria Gonçalves
 — Torto Arado, Itamar Vieira Junior
 — O Avesso da Pele, Jeferson Tenório
 — Nove Noites, Bernardo Carvalho
 — O Filho Eterno, Cristovão Tezza
6º (empate) — Olhos d’Água, Conceição Evaristo / Eles Eram Muitos Cavalos, Luiz Ruffato
 — O Livro das Semelhanças, Ana Martins Marques
9º (empate) — Pornopopéia, Reinaldo Moraes / O Sol na Cabeça, Geovani Martins / A Queda do Céu, Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert
13º (empate) — Um Útero É do Tamanho de um Punho, Angélica Freitas / O Voo da Madrugada, Sérgio Sant’Anna / Cinzas do Norte, Milton Hatoum
16º — Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas, Elvira Vigna
17º — K.: Relato de uma Busca, Bernardo Kucinski
18º — Machado, Silviano Santiago
19º (empate) — Passageiro do Fim do Dia, Rubens Figueiredo / Budapeste, Chico Buarque
21º (empate) — Leite Derramado, Chico Buarque / Diário da Queda, Michel Laub
23º (empate) — Os Supridores, José Falero / O Som do Rugido da Onça, Micheliny Verunschk / Amora, Natalia Borges Polesso

Diversidade em foco

A lista evidencia uma guinada histórica: pela primeira vez, autoras mulheres e autores negros têm protagonismo claro entre os livros mais celebrados do país. Conceição Evaristo, por exemplo, aparece com Olhos d’Água — obra que representa o conceito de “escrevivência”, em que mulheres negras escrevem suas próprias trajetórias, sem mediações.

Outro destaque é A Queda do Céu, coautoria entre o líder yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo Bruce Albert. A obra introduz uma visão indígena da existência e rompe fronteiras entre literatura, filosofia e espiritualidade.

Momento simbólico para a literatura nacional

A publicação do ranking acontece em meio a outro acontecimento simbólico: Ana Maria Gonçalves é atualmente candidata a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Se eleita, será a primeira mulher negra na instituição.

Além disso, a lista destaca o papel crucial das pequenas editoras, que muitas vezes lançaram os livros selecionados, fortalecendo a bibliodiversidade no Brasil.

A seleção dos 25 melhores livros do século 21 é mais do que uma lista — é um reflexo do Brasil que se expressa por meio da literatura. Um país onde diferentes vozes ganham espaço, onde a palavra é ferramenta de denúncia, memória, imaginação e transformação.

“A grande literatura não precisa ser unânime — mas precisa ser viva”, afirmou um dos jurados.

Se essa lista aponta alguma certeza, é esta: a literatura brasileira está mais viva, diversa e potente do que nunca.

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