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Festival de Curitiba

No Estoy Solo: o quanto um só corpo consegue comunicar

A peça faz parte do Eixo Latino, que abriga produções latinoamericanas dentro da Mostra Lúcia Camargo

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Foto: Iván Haidar

por Giovanna Bohrer – 6º período – Universidade Positivo

No Estoy Solo habita o intervalo entre a ausência e a presença de si abordando os pormenores do processo cíclico de conhecer-se. Apresentada na noite da última terça-feira (25), no teatro da Caixa Cultural, a obra é a produção final de uma trilogia de Ivan Haidar – que também é o ator responsável pela performance no palco.

Luzes baixas, silêncio e repetições. Esse é um panorama geral da atmosfera adquirida pelo teatro no instante em que a ação entrega seus primeiros tons. Já é possível entender quem será o protagonista dessa história, ou melhor, o intermediador deste desafogo em forma de espetáculo. Fica claro o comprometimento do ator com a forma em que deseja compartilhar esse conteúdo. Cada passo é calculado, cada movimento, cada respiração. A exatidão é um elemento de extrema importância em No Estoy Solo, na medida em que Ivan contracena com representações de si próprio e, até mesmo, com ângulos diferentes de seu corpo real. A peça se sustenta em posições milimetricamente pensadas para causar e representar o desconforto dos corpos. No caso, deste corpo específico.

A performance usa de projeções para complementar a atuação ao vivo. É a imagem em movimento encontrando a performance teatral – a síntese entre cinema e teatro testemunhada em cima do palco. Não há maneira melhor de representar o modo em que são estabelecidas conexões nos dias de hoje, do que com uma grande mescla entre real e virtual. Encontros já não são apenas físicos, o virtual está intrinsecamente presente nas relações sociais. E isso vale não apenas para trocas com outros, mas também para o ato de encontrar a si mesmo em meio a tantos elementos que formam um ser humano. A carne e os ossos são somente a base. No Estoy Solo convida o público a perceber o que há além desta estrutura.

Ao longo de 50 minutos, a platéia se acostuma com o aguçamento dos sentidos pela baixa iluminação e com os repetitivos estímulos de corpos sobrepostos. O ator, de fato, não está sozinho nessa dança, e aos poucos parece perceber cada vez mais o poder de sua própria presença. Não faz falta não entender o idioma espanhol, afinal, a performance permite olhar justamente à universalidade das sensações.

A ampliação da representatividade internacional das realizações do Festival de Curitiba demonstrou ser um forte chamariz da atenção do público. A administradora Esther Cruz conta que um dos motivos de ter escolhido assistir à peça foi justamente por se tratar de um espetáculo vindo de fora do Brasil. “Quando eu vi que a peça era argentina meu interesse só cresceu, é ótimo ter a oportunidade de conhecer projetos de outros países”, conta.

E essa troca cultural também é apreciada por quem está em cima ou nos bastidores do que acontece sobre os palcos. Quando as luzes se acendem e o personagem cede espaço ao ator, Ivan Haidar aproveita para agradecer – em português – à receptividade do público, a sua equipe e ao Festival de Curitiba. “Nós estamos muito felizes de estar aqui no Brasil. Viemos da Argentina, de um contexto muito difícil a nível cultural. Fortalecer essas relações internacionais e fortalecer a resistência é muito importante”, ressalta.

Serviço:
“No Estoy Solo”
Data e Hora: 26 de março, às 20h30
Local: Caixa Cultural
Gênero: Dança performance
Classificação: 18 anos (contém cenas de nudez)
Origem: Buenos Aires, Argentina
Duração: 50 minutos

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