Cinema
Com sensibilidade e força, curta Orun apresenta os orixás a partir do olhar de um candomblecista
Além de combater o preconceito religioso, o filme exalta a beleza negra e a diversidade dos corpos.

por Vanessa R Ricardo
Com uma estética poética e potente, o cineasta Thiago Xavier mergulha na espiritualidade e na ancestralidade afro-brasileira em Orun, seu primeiro curta-metragem. O filme apresenta os orixás sob a perspectiva de quem vive o candomblé, desafiando estereótipos e enfrentando o racismo religioso com arte, beleza e representatividade.
A ideia do projeto surgiu em 2017, quando Thiago começou a fazer ensaios fotográficos sobre os orixás. A primeira inspiração veio a partir do registro da gravidez de uma amiga, representando Oxum. Com o tempo, o desejo de expandir a abordagem visual amadureceu, até que o curta pôde ser viabilizado por meio do edital Paulo Gustavo no município de São João de Meriti, no Rio de Janeiro.
No filme, o som tem papel central. “No audiovisual, o som é imprescindível para trazer a experiência de imersão que eu precisava”, explica o diretor. Para garantir fidelidade aos toques dos orixás, Thiago gravou os sons diretamente em seu terreiro de candomblé, antes mesmo das filmagens. O desenho de som foi desenvolvido por Thauan Honório, parceiro de criação que, mesmo não sendo do candomblé, se conectou profundamente ao projeto. “Nossa troca foi muito rica. Eu escrevia tudo o que precisava de efeito para cada orixá, e ele sempre entregava algo incrível para cada cena.”
Desde o lançamento, a trajetória do filme tem sido marcada por desafios e descobertas. Thiago reconhece que lidar com uma temática como o candomblé exige sensibilidade e coragem. “A recepção tem sido majoritariamente positiva, com elogios e reconhecimento vindos de diferentes públicos. “Recebo muitas mensagens de pessoas de outras religiões dizendo como foi importante conhecer mais e como o medo era só falta de contato.”
Em Orun, os orixás são representados como seres de luz, em sintonia com a natureza, rompendo com a representação sombria ou demonizada que historicamente foi atribuída a essas entidades. “Quis trazer uma atmosfera de encantamento, como a que vivemos nos rituais ou na natureza. É o oposto da imagem macabra que criaram ao longo do tempo.”
Além de combater o preconceito religioso, o filme exalta a beleza negra e a diversidade dos corpos. “Não foi só sobre escolher pessoas pretas, mas sobre respeitar os arquétipos e enaltecer cada tipo de corpo”, afirma Thiago. “Muitas pessoas dizem que enxergaram os orixás como sempre imaginaram, e isso me emociona.”
Com Orun, Thiago Xavier entrega não apenas um filme, mas uma experiência de ancestralidade, acolhimento e reeducação do olhar. Um passo importante na luta contra o racismo religioso e na valorização das expressões culturais afro-brasileiras.
O curta Orun, da Ofabebé Produções está disponível no YouTube














