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MISTURA FINA – Bia Góes – Nosso Chão

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Por Giseli Canto

Chegou o dia em que eu conto aqui de quem era aquela voz que perguntei aos amigos nas redes e a conversa que tive com Bia Góes. Recebi um material que me agradou pela delicadeza e, ao mesmo tempo, pela fortaleza da mulher que tive o privilégio de conhecer seu trabalho. Ela tem como sua maior influência a música instrumental brasileira, que recebeu desde sua infância pelos pais. Esse fato foi e é importante. Assimilou o que tem de melhor na música, compôs com suas raízes e fez surgir sua personalidade, com um trabalho ímpar, só dela e, sem sombra de dúvida, original.

Bia Góes é cantora, compositora, professora e pesquisadora. Ela lançou este ano seu terceiro CD, “Nosso Chão”, por meio do qual homenageia e saúda, em oito canções, a brasilidade de diversos ritmos, as zuelas (cantigas) aprendidas no Candomblé Angola e a sua leitura do mundo. A artista já tem mais de 15 anos de carreira, apresentou-se ao lado de grandes artistas e o que se vê é seu grande talento. Sua obra tem a força religiosa e sua verdade. É possível dizer que essa estrada tem futuro garantido em si mesma.

Uma história que consumo dessa voz, que entra na alma da gente como se pedisse licença para mexer nos nossos sentimentos. Ela tem medidas na emissão, como se demonstrasse a você que entende de sorrir e chorar bem de mansinho pelo corpo de quem ouve. Não há força nem dificuldade. Cada nota, sem trastejar no ritmo, num vem e vai, caminhando pela música que brota da alma. Espero que você tenha a mesma curiosidade que tive de ouvir tudo. Com o direito de se doar, ela revela sua obra e dispõe para quem quiser conhecer.

Imagino que pra algumas pessoas, deva ser um pouco difícil seguir a carreira de seus pais e ter um trabalho que seja independente. Um trabalho que tenha sua cara. Apesar de achar que pra Bia isso só se somou porque tem seus caminhos bem delineados e independentes; seu material é impecável. Por acreditar que música está presente em sua vida desde sempre, por conta do meio em que viveu.

Giseli: em algum momento específico você entendeu que seria cantora, aquele momento em que ouvimos a nossa voz e concluímos que podemos seguir a diante?

Bia: Eu comecei a me entender como cantora depois de já ser cantora. Quando cantava na noite e não tinha coragem de olhar pro público. Ficava lá, olhando para a banda, sacando a onda deles e buscando dialogar. Daí que veio a sacação. Eu sou cantora. Tenho que entregar as palavras pro público que tá ouvindo. Essa pergunta é muito boa. Pois eu frequentemente tenho que me lembrar de que sou cantora. Pra poder me refazer. Pra poder escolher o que cantar. Pra comunicar; pra sentir meu instrumento aliado ao meu corpo, às minhas escolhas de vida, escolhas de estética e me reconheço e me reavalio como cantora de tempos em tempos.

A potência motriz dessa artista é definida como um agente natural, como água, vapor, vento, eletricidade. No chão, na terra você vai encontrar toda a natureza desse seu último trabalho. É aqui que me deparo com as forças ocultas de Bia Góes. Depois de perceber tanta leveza descubro essa energia que entendo de onde tudo isso vem. Acredito que esse movimento está no ventre da sua história. Tem algo de muito forte em seu trabalho que da primeira vez que a ouvi, não percebi. Ouvi cada nota, divisão e ritmicidade.

Giseli: como é isso? Aprendeu, estudou, fez técnica, ou foi cantando e deixando rolar?

Bia: Eu comecei a cantar cantando e tendo os músicos como referência. Meu estudo hoje em dia é bem maior do que era no início. Em meu começo eu queria cantar, cantar de tudo. Fiz backings vocal, cantei samba da década de 30/40, cantei forró com o Oswaldinho do acordeom, daí parti para o lance de gravar CD e construir uma identidade – a identidade de cantor que vem se formando a cada trabalho.

Giseli: A maioria das músicas que ouvi tem a participação da família. Também com essa família é impossível não usufruir. É bom trabalhar em família?

Bia: Olha, trabalhar em família é muito bom, é movimento positivo, pois a gente recebe muito amor e entrega. O que eu faço pra garantir que meu processo aconteça e preservar as relações é dar muito valor pra organização. A gente ensaia, mas antes envia as partituras pro outro ler, faço camarim gostoso pra ensaio, acabo na hora marcada, agendo com antecedência. Essas pequenas coisas que aconteceriam se não fosse em família. Eu gosto de preservar.

Como falei acima, ela também é professora e pesquisadora. Pedi que falasse um pouco sobre esses caminhos e como isso influencia no seu trabalho.

Bia: Sou formada em pedagogia e trabalhei muitos anos como arte educadora. Junto a isso sou professora de canto popular no Conservatório de Música de Tatuí. Eu busco levar pra pedagogia vocal um olhar integrativo, que respeite a experiência do sujeito como importante ponto de partida e de chegada. O ensino de canto pelo descobrimento dos filtros presentes em uma canção, o treino de fala e compreensão das palavras, o estudo dos aspectos melódicos rítmicos e harmônicos de uma canção e a integração dessas partes como a identidade do cantor são os assuntos que mais tenho pesquisado.

Giseli: como é ser filha desse cara tão maluco e tão gênio.

Bia: Ser filha do Arismar é antes de tudo ter por perto um cara lindo que ama a vida e os encontros. Esse amor dele contagia. Ele tem um compromisso com a linguagem dele, ele é o que toca. E eu tenho isso como exemplo, quando escolho o que cantar. Canto o meu momento.

A artista, que nos trabalhos até aqui tracejados, podemos ver essa infinidade de possibilidades, é filha de Silvia Góes, pianista, compositora e arranjadora e do multi-instrumentista, compositor e arranjador Arismar do Espírito Santo, que em Curitiba esteve por muitas vezes, tocou com muitos músicos e que esteve aqui em uma incrível matéria sobre Griô dos Sons.

Deixo você com Bia Góes e a participação do grande Filó Machado, compositor, cantor, arranjador, produtor e multi-instrumentista.

Provided to YouTube by CDBaby Moçambique (feat. Filó Machado) · Bia Góes · Filó Machado Nosso Chão


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2 Comentários

2 comentários

  1. Tereza Soares

    31 de maio de 2021 at 09:00

    Jamais iria saber que é a dona da voz ímpar, acho que Gerson acertaria. Parabéns Giseli, é uma ótima matéria.

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